sábado, 17 de novembro de 2012

O brasileiro sempre precisa de um herói


Os Estados Unidos sempre tiveram muitos heróis: Super-Homem, Mulher Maravilha, Homem-Aranha e por aí vai; até a Alemanha nazista, na época da Segunda Guerra Mundial, teve direito a um grande personagem do gênero, o Caveira Vermelha, arqui-inimigo do Capitão América. Nós, por outro lado, chegamos no máximo a ter o infame Zé Carioca, personagem de quadrinhos de Walt Disney criado na década de 1940, caracterizado por ser malandro, vagabundo, caloteiro e gente boa. Que fase!

O Brasil, na esteira desta hipossuficiência histórica de heróis, sempre teve de se virar para arrumar um exemplo à americana: um herói nacional. O resultado disso é o endeusamento de figuras públicas ou ficcionais que acabam vestindo a carapuça de herói por um motivo ou outro, e substituem esse desejo no imaginário dos brasileiros.

Não sei ao certo quando esta prática começou, mas um momento marcante dela foi o da eleição presidencial de 2002. Àquela época, o país ainda ressentia-se dos anos de ditadura e cambaleava lentamente na direção da estabilidade econômica quando, de forma inédita, elegeu um metalúrgico do ABC paulista. O brasileiro precisou de um herói, e eis que surge presidente o Lula, ferrenho opositor do regime militar, que foi alçado ao posto de semi-deus da nação por ser a alegoria perfeita do povo brasileiro em sua pobreza, ignorância e luta por uma vida melhor – merecendo até filme!

Alguns anos depois, em 2007, Wagner Moura estrela o blockbuster Tropa de Elite, interpretando o Capitão Nascimento – personagem que se tornou uma espécie de Chuck Norris dos trópicos. Com a crescente violência no Rio de Janeiro e no resto do país e uma interpretação digna de Oscar, Capitão Nascimento representou o anseio moralmente duvidoso de muitos brasileiros por aí: agredir fisicamente ou matar até um bandido. Nascia mais um ídolo, ainda que sob as vestes da violência e da tortura.

Hoje em dia, em 2012, não estamos tão distantes das realidades de 2002 e 2007. Com o julgamento do “mensalão” em todas as mídias há alguns meses, o brasileiro já escolheu um novo salvador: o paladino da Justiça, Min. Joaquim Barbosa, relator do tal processo. Nas redes sociais inclusive já surgiram imagens de Joaquim Barbosa, de toga, sendo comparado ao Batman, pela vestimenta também preta e o combate ao crime de colarinho branco e estrelinha vermelha na lapela.

Joaquim Barbosa, em sua batalha contra a corrupção, muitas vezes confundiu austeridade com grosseria. Sendo mal-educado com advogados e colegas, conquistou a simpatia dos brasileiros prostrados com a desonestidade às custas de afetações inexplicáveis e deboches aos outros ministros, protagonizando episódios infelizes no palco do Supremo Tribunal Federal.

Então o que têm em comum Lula, Cap. Nascimento e Joaquim Barbosa? Com muitos ídolos no futebol e poucos na sociedade (e nos quadrinhos), eles desempenharam todos o mesmo papel: heróis de um povo que simplesmente precisa se apegar a algo heroico, seja lá o que for, seja bom ou ruim.



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 17 de novembro de 2012.

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