Os Estados Unidos sempre tiveram
muitos heróis: Super-Homem, Mulher Maravilha, Homem-Aranha e por aí vai; até a
Alemanha nazista, na época da Segunda Guerra Mundial, teve direito a um grande
personagem do gênero, o Caveira Vermelha, arqui-inimigo do Capitão América. Nós,
por outro lado, chegamos no máximo a ter o infame Zé Carioca, personagem de
quadrinhos de Walt Disney criado na década de 1940, caracterizado por ser
malandro, vagabundo, caloteiro e gente boa. Que fase!
O Brasil, na esteira desta
hipossuficiência histórica de heróis, sempre teve de se virar para arrumar um
exemplo à americana: um herói nacional. O resultado disso é o endeusamento de
figuras públicas ou ficcionais que acabam vestindo a carapuça de herói por um
motivo ou outro, e substituem esse desejo no imaginário dos brasileiros.
Não sei ao certo quando esta prática
começou, mas um momento marcante dela foi o da eleição presidencial de 2002. Àquela
época, o país ainda ressentia-se dos anos de ditadura e cambaleava lentamente
na direção da estabilidade econômica quando, de forma inédita, elegeu um
metalúrgico do ABC paulista. O brasileiro precisou de um herói, e eis que surge
presidente o Lula, ferrenho opositor do regime militar, que foi alçado ao posto
de semi-deus da nação por ser a alegoria perfeita do povo brasileiro em sua
pobreza, ignorância e luta por uma vida melhor – merecendo até filme!
Alguns anos depois, em 2007, Wagner
Moura estrela o blockbuster Tropa de
Elite, interpretando o Capitão Nascimento – personagem que se tornou uma
espécie de Chuck Norris dos trópicos. Com a crescente violência no Rio de
Janeiro e no resto do país e uma interpretação digna de Oscar, Capitão
Nascimento representou o anseio moralmente duvidoso de muitos brasileiros por
aí: agredir fisicamente ou matar até um bandido. Nascia mais um ídolo, ainda
que sob as vestes da violência e da tortura.
Hoje em dia, em 2012, não estamos
tão distantes das realidades de 2002 e 2007. Com o julgamento do “mensalão” em
todas as mídias há alguns meses, o brasileiro já escolheu um novo salvador: o paladino
da Justiça, Min. Joaquim Barbosa, relator do tal processo. Nas redes sociais inclusive
já surgiram imagens de Joaquim Barbosa, de toga, sendo comparado ao Batman,
pela vestimenta também preta e o combate ao crime de colarinho branco e
estrelinha vermelha na lapela.
Joaquim Barbosa, em sua batalha
contra a corrupção, muitas vezes confundiu austeridade com grosseria. Sendo mal-educado
com advogados e colegas, conquistou a simpatia dos brasileiros prostrados com a
desonestidade às custas de afetações inexplicáveis e deboches aos outros
ministros, protagonizando episódios infelizes no palco do Supremo Tribunal
Federal.
Então o que têm em comum Lula, Cap.
Nascimento e Joaquim Barbosa? Com muitos ídolos no futebol e poucos na
sociedade (e nos quadrinhos), eles desempenharam todos o mesmo papel: heróis de
um povo que simplesmente precisa se apegar a algo heroico, seja lá o que for,
seja bom ou ruim.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 17 de novembro de 2012.
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