sábado, 10 de novembro de 2012

Tablets, computadores... E o ensino, como é que fica?


Circulava pelas redes de comunicação uma proposta de campanha para a prefeitura de Manaus, nas últimas eleições, em que se daria para cada estudante da rede pública municipal, de determinados níveis, um computador. “Dá pra fazer!”, seguia-se dizendo, “cabe no orçamento!”. Curiosamente, há não muito tempo e no mesmo sentido da dita campanha à prefeitura, o Governo do Estado anunciou que daria tablets aos alunos finalistas da rede pública estadual.

Como vimos, “dá pra fazer” mesmo e coube no orçamento do Estado, assim como talvez coubesse no orçamento da prefeitura, segundo os cálculos demonstrados no programa de governo que mencionei anteriormente. Tablet, computador... Qual é a relevância de tudo isso? Quais são as consequências do programa? Esse mesmo dinheiro não poderia operar outras mudanças mais significativas na educação regional?

Primeiramente: aonde iriam parar estes computadores ou tablets? A manutenção e assistência técnica seriam fornecidas gratuitamente? Como fica o consumo de energia elétrica de famílias que, sem condições de ter o tal aparato, agora o têm e o utilizam em suas tomadas? Não possuo o dom da vidência, mas penso que gastar este dinheiro em eletroeletrônicos para alunos é correr o risco de ver todo o investimento caindo no chão e quebrando (literalmente!), sendo perdido, arranhado, riscado, vendido, roubado, utilizado no Facebook e por aí vai. O que dificilmente aconteceria com um livro, muito embora o livro também dificilmente fosse ser lido.

Ainda, muito melhor do que um tablet por aluno seria poder dar um tablet por professor da rede pública de ensino e um aparelho de Datashow por sala de aula. Posto que o objetivo seja investir em educação, o primeiro passo é investir em quem educa e em como se educa. Se com este dinheiro não é possível aumentar significativamente os salários de todos os professores, que eles pelo menos possam ganhar o bendito tablet, já que provavelmente o utilizarão com muito mais rigor do que os estudantes.

Esse pretenso investimento em inclusão digital e educação é mesmo uma grande ideia, sendo que temos problemas mais urgentes no momento? Há trabalhos científicos que defendem programas desse tipo. De fato, eles não são ruins, é que simplesmente não faz sentido dar computadores sem antes dar educação.

Com o mesmo dinheiro, talvez fosse possível fazer salas de computadores nas escolas, com o número de PCs mais do que suficiente para atender a demanda dos alunos e da comunidade ao redor; ou até, quem sabe, iniciar um projeto mais arrojado de educação à distância para o interior do Amazonas.

Na situação em que estamos, como um dos lanternas nas classificações do ensino público nacional, qualquer investimento em educação tem algum valor, qualquer coisa é bem vinda. Esse programa mostra, se não uma seriedade em ver pessoas saindo das escolas sabendo ler, escrever e realizar equações simples, uma preocupação em que elas saibam se conectar. Mas devemos nos perguntar: qual é a prioridade?



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 10 de novembro de 2012.

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