Circulava pelas redes de comunicação uma proposta de campanha para a
prefeitura de Manaus, nas últimas eleições, em que se daria para cada estudante
da rede pública municipal, de determinados níveis, um computador. “Dá pra
fazer!”, seguia-se dizendo, “cabe no orçamento!”. Curiosamente, há não muito
tempo e no mesmo sentido da dita campanha à prefeitura, o Governo do Estado
anunciou que daria tablets aos alunos
finalistas da rede pública estadual.
Como vimos, “dá pra fazer” mesmo e coube no orçamento do Estado,
assim como talvez coubesse no orçamento da prefeitura, segundo os cálculos
demonstrados no programa de governo que mencionei anteriormente. Tablet, computador... Qual é a relevância
de tudo isso? Quais são as consequências do programa? Esse mesmo dinheiro não poderia
operar outras mudanças mais significativas na educação regional?
Primeiramente: aonde iriam parar estes computadores ou tablets? A manutenção e assistência técnica
seriam fornecidas gratuitamente? Como fica o consumo de energia elétrica de
famílias que, sem condições de ter o tal aparato, agora o têm e o utilizam em
suas tomadas? Não possuo o dom da vidência, mas penso que gastar este dinheiro
em eletroeletrônicos para alunos é correr o risco de ver todo o investimento
caindo no chão e quebrando (literalmente!), sendo perdido, arranhado, riscado,
vendido, roubado, utilizado no Facebook
e por aí vai. O que dificilmente aconteceria com um livro, muito embora o livro
também dificilmente fosse ser lido.
Ainda, muito melhor do que um tablet
por aluno seria poder dar um tablet
por professor da rede pública de ensino e um aparelho de Datashow por sala de aula. Posto que o objetivo seja investir em
educação, o primeiro passo é investir em quem educa e em como se educa. Se com
este dinheiro não é possível aumentar significativamente os salários de todos
os professores, que eles pelo menos possam ganhar o bendito tablet, já que provavelmente o
utilizarão com muito mais rigor do que os estudantes.
Esse pretenso investimento em inclusão digital e educação é mesmo
uma grande ideia, sendo que temos problemas mais urgentes no momento? Há trabalhos
científicos que defendem programas desse tipo. De fato, eles não são ruins, é
que simplesmente não faz sentido dar computadores sem antes dar educação.
Com o mesmo dinheiro, talvez fosse possível fazer salas de
computadores nas escolas, com o número de PCs mais do que suficiente para
atender a demanda dos alunos e da comunidade ao redor; ou até, quem sabe,
iniciar um projeto mais arrojado de educação à distância para o interior do
Amazonas.
Na situação em que estamos, como um dos lanternas nas classificações do ensino público nacional, qualquer investimento em educação tem
algum valor, qualquer coisa é bem vinda. Esse programa mostra, se não uma
seriedade em ver pessoas saindo das escolas sabendo ler, escrever e realizar
equações simples, uma preocupação em que elas saibam se conectar. Mas devemos
nos perguntar: qual é a prioridade?
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 10 de novembro de 2012.
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