“Quando um corredor campeão começa a
ficar aquém de suas melhores velocidades, leva um tempo para determinar se ele
está apenas em uma fase ruim ou se perdeu definitivamente o fio da meada”. Com
esta frase, a revista “The Economist” iniciou uma matéria em que comenta que as
grandes economias emergentes do século XXI – Brasil, Rússia, Índia e China –
estão perdendo força, e que este é só o começo. Para a revista, as economias
emergentes são como os grandes corredores campeões, e vivemos num momento em
que não se sabe, ao certo, se estes países irão se recuperar de uma péssima
fase ou se definitivamente estão prestes a decair.
A matéria é ilustrada por uma charge
bem simbólica. Numa pista de atletismo, quatro corredores estão atolados. O
corredor chinês, bem adiante, ainda consegue se mover com certa lentidão; o
corredor russo está com a lama até o joelho; o corredor indiano, com a lama até
a cintura; e o corredor brasileiro, com semblante desolado, está com a lama
batendo no peito, já fora do páreo. Mas a publicação da “The Economist” não foi
a única nos comentários internacionais desta semana sobre o Brasil. O jornal
americano “Chigaco Sun-Times”, da cidade de Chicago, que concorreu com o Rio de
Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016, ironizou os protestos brasileiros e
perguntou: “perdemos para isso?”
Tenho certeza, por exemplo, de que a
Copa da Confederação foi ótima para os amantes de futebol, assim como a Jornada
Mundial da Juventude, que agora sediamos com Papa e tudo, está sendo esplêndida
para os que têm fé em Deus. E isso é o que importa. No entanto, devemos
reconhecer que o Brasil tem “reprovado” quando passa por testes de segurança,
organização e mobilidade em grandes eventos. Nesse sentido, dá até para
entender a incredulidade dos jornalistas americanos. Perderam para isso?
As críticas internacionais são
duras, mas devem servir de reflexão, ao invés de motivarem reações do tipo “só
quem pode falar mal do Brasil são os brasileiros”. Não é possível dizer que as
impressões da “The Economist” e do “Chicago Sun-Times” sejam a mais pura
verdade, não. Porém, é necessário
reconhecer que o país anda um bocado desgovernado, com indefinição política,
crise de legitimidade democrática, insegurança econômica e instabilidade
social. Está na cara. Nesta mesma semana, durante a visita do Papa, o
Presidente do STF, Joaquim Barbosa, cumprimentou Francisco I e passou direto
por Dilma, sem lhe dirigir a palavra, deixando-a “no vácuo”. É normal que, em
um país minimamente civilizado, o chefe do Judiciário seja tão deselegante com
a chefa do Executivo? Não, não é.
Numa conversa sobre democracia, um
grande amigo certa vez me disse o seguinte: o regime de democrático é como um
relacionamento amoroso, e por vezes nos acomodamos com o passar dos anos, mesmo
com situações desconfortáveis, até o ponto em que é preciso empreender mudanças.
Já que, segundo a imprensa, estamos “atolados na lama”, será que não chegou a
hora de enfim fazermos estas mudanças?
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 27 de julho de 2013.