No último final de semana, um boato
sobre o fim do Programa Bolsa Família se espalhou por 12 estados brasileiros,
levando milhões de pessoas ao desespero. Segundo o boato, os beneficiários
deveriam sacar até o sábado qualquer quantia que tivessem recebido, porque este
seria o último depósito feito pelo governo antes da suspensão do benefício. O
resultado foi o caos nas agências da Caixa Econômica Federal, que tiveram até
terminais eletrônicos depredados e precisaram, em alguns casos, do auxílio
policial, para que contivessem as multidões.
O Bolsa Família é um programa muito
importante. Para o governo, é claro, em razão de determinadas finalidades
eleitoreiras; mas, sobretudo, é importante para as pessoas que dele dependem, e
que talvez estivessem em miséria se não contassem com esta verba. De fato, este
programa tem socialmente feito um grande bem pelo país. Portanto, é natural que
um boato sobre o fim do benefício – piada de péssimo gosto, diga-se de passagem
– cause tanto desespero nas pessoas.
Como vários outros programas
sociais, o Bolsa Família é uma medida de emergência. É muito simples de
entender: há a miséria, e a melhor forma de combater a miséria é com educação
de qualidade, economia vigorosa, geração de emprego e renda etc.; mas isto não
se consegue do dia para a noite, e é aí que entra o Bolsa Família. O governo
distribui renda, dá o pontapé inicial para que as pessoas tenham melhores
condições de vida e, quando elas já estiverem caminhando com as próprias
pernas, cessa o benefício.
No entanto, “dar melhores condições
de vida” não significa só depositar em conta corrente o valor do Bolsa Família.
“Dar melhores condições de vida” é fazer com que as pessoas saibam ler e
escrever, é valorizar o professor da rede pública de ensino, é investir em
transporte público e outras coisas mais. Da maneira como estamos, quanto tempo
durará o Bolsa Família? É um benefício social eficaz, mas que deveria ser
extinto tão logo cumprisse sua função; o problema é que, sem investimento em
outras áreas sociais, não é cedo que sua função se cumprirá.
É neste ponto que o episódio do
boato sobre o Bolsa Família deve ser pedagógico. O desespero das pessoas que
acreditaram na mentira demonstra que elas ainda não estão preparadas para
deixar de recebê-lo, o que é natural, já que o programa tem apenas dez anos; e
nos mostra que essa “dependência química” que o Bolsa Família gerou – a
dependência química de uma substância muito perigosa chamada “assistencialismo”
– deve ser tratada com investimentos que possibilitem um desenvolvimento social
autônomo, livre de mesadas do governo.
Vicissitudes à parte, na
administração do programa e nos fins políticos de sua manutenção, se o Bolsa
Família promove a extinção da miséria, então é um programa que tem seu valor.
Por outro lado, se é um programa que gera esta “dependência” nas pessoas, e que
não está sendo realizado concomitantemente com pesados investimentos em
educação, então deve ser repensado. Que o repensemos, portanto.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 25 de maio de 2013.