Eleições municipais em Manaus;
eleições presidenciais nos Estados Unidos da América. Com a “festa da
democracia” ocorrendo lá e cá simultaneamente, é impossível evitar comparações
entre o que acontece aqui, entre Arthur Neto e Vanessa Grazziotin, e lá, entre
Mitt Romney e Barack Obama. Mesmo em realidades distintas e distantes, há sim
semelhanças entre os dois pleitos: são cargos no poder executivo, entre apenas
duas pessoas e ambos têm dado o que falar na mídia.
Os EUA podem não ser o melhor
exemplo de civilidade, é mesmo. Os casos são inúmeros: que nação “civilizada”
aceita passivamente a pena de morte quando, no continente em que se insere,
todos os países já respeitam (formalmente) os direitos humanos? Que nação
civilizada é essa que possui uma política armamentista tão nociva? E a política
internacional beligerante? E a prisão de Guantánamo? Realmente, muitos fatos
depõem contra a civilidade norte-americana.
No entanto, mesmo que os americanos
pequem no quesito civilidade por um lado, dão-nos uma aula noutro lado:
eleições. Os recentes debates entre Romney e Obama são a prova indiscutível
disso, quando um candidato chega a um debate, cumprimenta seu adversário e,
mesmo empunhando um microfone em igual volume e tendo a faculdade de
interromper o discurso adversário, consegue manter um nível alto de diálogo com
o outro e com o público. E essa lição nós ainda não aprendemos.
Verdade seja dita: a atual eleição
está permeada de baixarias, e é inegável que estejamos bastante aquém de um
debate ideal, em que se encontrem ideias conflitantes, porém respeitosas. O que
vemos diariamente são estratagemas de marqueteiros em jogadas que só nutrem a
concorrência desleal, ao invés do confronto direto de ideologias, o confronto
que deve estar a serviço do cidadão-eleitor.
Quando digo que devemos beber da
civilidade norte-americana, quero dizer que devemos nos inspirar no debate objetivo:
sem muletas, sem acusações cansativas e infundadas, mas com ideias boas e
respeito por quem as traz.
A máxima de Voltaire deve ser introjetada
em nossos candidatos: posso não concordar com o que dizes, mas lutarei pelo
direito de dizeres. Funciona, no Brasil, da maneira diametralmente oposta:
posso até concordar com o que dizes, mas lutarei para que estejas errado ao
dizer! Vivenciamos um pleito em que, sobretudo, disputam pessoas, quando deveriam
estar em confronto direto os projetos, as diretrizes e a gestão do futuro de
uma cidade.
Infelizmente, nossas eleições
municipais estão tão deturpadas que é muito mais fácil encontrar nas propagandas
eleitorais um motivo para não votar em determinado candidato do que uma
proposta de governo. Os valores certamente se inverteram.
Seja como for, Romney e Obama têm
seus problemas lá na terra de Mickey Mouse, e Arthur e Vanessa têm seus
problemas aqui na terra do tucumã; e isso, de modo algum, interessa ao eleitor:
o que a cidade quer é uma conversa civilizada sobre a cidade em si. Será que
teremos um dia? Bom voto a todos!
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 27 de outubro de 2012.