Neste caos organizado, globalizado e hiperconectado em que nós
vivemos hoje em dia, a maioria das pessoas pensa que conhece o mundo só porque
consegue abrir o Google Maps em um celular à palma da mão e bisbilhotar um
apanhado de cidades e países em poucos minutos. Não é bem assim: talvez a graça
do universo seja poder sentir-se pequeno diante dele, e essa se tornou uma sensação
raríssima. Por uma ironia curiosa da História e da vida, não se percebe mais
sequer que existe um universo. Existe, para o nosso mundo cheio de correria e
afazeres, a necessidade de estudar e trabalhar sem olhar para os lados,
esquecendo-se de viver e erguer a cabeça.
Por um segundo, deixe de lado o burburinho das conversas ao redor,
as notícias sobre a crise na Europa, o fim do mundo, o estresse, a televisão: o
mundo é sensível e precisa ser sentido com calma, então pare um pouco. Os
países não são somente um nome, uma situação econômica e um IDH; são pessoas,
costumes, ar que se respira, prato que se come, cerveja que se bebe... Então por
que não viajar? E fazer tudo sem pressa, sem correria.
Reflita: ano após ano a expectativa de vida do homem-médio cresce;
surgem novos tratamentos para o câncer, novas obras de arte e música, novos
amigos, novos voos da sua cidade para um lugar diferente – às vezes até uma boa
promoção de Manaus até Nova Iorque! Para que graduar-se aos 21 anos? Aos 22,
23... Que diferença mesmo é que faz? Um direito tão fundamental quanto o
direito à vida, à privacidade e à honra deveria ser o direito de um homem por
os pés na Muralha da China, no Everest, no Deserto do Saara – ou em qualquer
lugar que lhe apetecer. Ora, não é fundamental conhecer o mundo em que se vive?
Somente duas horas de avião separam o Porto, em Portugal, de
Marraquexe, no Marrocos; e menos de dez horas de voo separam Ankara, na
Turquia, de Pequim, na China. Muitas vezes nós conseguimos passar mais tempo do
que isso trabalhando ou dormindo, então não são voos tão longos assim se
pararmos para pensar.
De que tamanho é o mundo? Se calhar não é tão grande quanto se acredita
e pode até valer a pena conhecê-lo com os próprios olhos. Por exemplo, você
acha que conhece o mundo islâmico só porque o vê pela televisão? E o Rio de
Janeiro oferece muito mais do que lindas mulheres em biquínis ousados durante o
carnaval. Você não tem curiosidade em saber mais sobre a catedral de ossos da
República Tcheca? Ou a cidade fantasma de Fordlândia, no Pará? Veja o mundo por
si, sinta-o pelos próprios olhos, sem agonia, em qualquer lugar.
Não precisa ter pressa, o tempo corre hoje exatamente como corria na
época de nossos pais, minuto por minuto; não precisa ter medo. Aliás, é uma
ótima resolução para o ano de 2013: conhecer um pouco melhor o mundo – pode ser
na Índia ou naquele restaurante do bairro que você ainda não teve disposição
para visitar. O mundo é uma mulher misteriosa, então ouse: dê-lhe um beijo no
rosto e quem sabe ela não lhe mostra alguns outros segredos?
Artigo publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 29 de dezembro de 2012.