Desde
que o deputado federal Marco Feliciano assumiu o cargo de Presidente da
Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara dos Deputados, sua vida não tem
sido fácil: mídia para lá e para cá, protestos amargos, reuniões interrompidas
por ativistas ou sendo feitas a portas fechadas e muito mais. E tudo isso por
um simples motivo: a CDH deveria ser uma reunião de parlamentares para promover
direitos das minorias étnicas e sociais, e agora é presidida por Feliciano, que
é manifestamente contra a união homossexual e tem um histórico de declarações
senão preconceituosas e racistas, pelo menos um tanto estranhas.
As
manifestações contra a presença de Feliciano como presidente da CDH são bem
variadas, como protestos dentro da própria Comissão, com cartazes e gritaria; e
até mesmo a atriz Fernanda Montenegro, de 83 anos, dando um beijo na boca de
outra atriz, Camila Amado, de 77 anos, em oposição às declarações de Feliciano.
Toda esta movimentação gerou certo constrangimento na Câmara, e até
articulações políticas para que ele deixasse o cargo. Feliciano foi
irredutível: não sairá, porque foi democraticamente eleito para a Câmara dos
Deputados e democraticamente eleito para a presidência da CDH.
A
primeira coisa que devemos aprender com esta história toda é que a democracia
sempre funciona, tanto para as boas escolhas, quanto para as escolhas ruins, e
nada se pode fazer. A segunda coisa se refere a um comentário que circulou pela
internet ultimamente, de que Marco Feliciano fora eleito democraticamente e não
adiantava gritar, pois não se faria democracia no grito. Isto está errado:
democracia não se faz com violência, com agressões, com ofensas; mas com grito
se faz sim: o grito consciente e informado, que não se pode calar ante a
censura. E a terceira coisa que se deve perceber é que uma simples troca de
presidência numa Comissão da Câmara dos Deputados incomodou muita gente, e isto
só mostra que a política não está tão distante das pessoas; que ainda há gente
que presta atenção e reclama quando se deve reclamar.
O
que faz um parlamento ter algum sentido é a diversidade de opiniões e ideias, e
como cada uma delas contribui para o desenvolvimento em geral do país. Para
isso, no entanto, deve haver respeito e coerência. Se Marco Feliciano é um
político de extrema direita e não é lá muito favorável à defesa de determinadas
minorias, que deixe o trabalho para outro; da mesma forma como os deputados
Romário e Popó estão na Comissão de Desporto, e não na Comissão de
Desenvolvimento Econômico: por pura coerência!
Independente de sua saída ou não, Marco
Feliciano deixa três boas lições, que foram relatadas acima: que nem sempre a
democracia agrada a quem a defende; que é preciso protestar sim, inclusive com
gritos, mas jamais com violência; e que a consciência política nasce de
episódios assim, e, se a presença deste homem não é tão saudável para os
Direitos Humanos, pelo menos aguça o olhar crítico e a vontade de participar do
futuro político do país.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 30 de março de 2013.