sábado, 12 de janeiro de 2013

A privacidade mitigada pela vitrine da internet


Não é segredo para ninguém que, hoje em dia, a privacidade é uma matéria-prima em extinção. E o pior: nós é que somos os maiores predadores da nossa própria intimidade. Através das redes sociais, cedemos à internet informações sobre o que comemos, onde vamos, quem são nossos amigos e familiares, o que estamos fazendo e muito mais.  Mais grave ainda é que ilustramos tudo isso com uma quantidade abundante de fotos.

Para quem quer ser sequestrador ou golpista, o século XXI é um prato cheio. Qualquer pessoa que já saiba o bê-á-bá da informática consegue sem muito esforço obter dados essencialmente pessoais sobre relacionamentos e hábitos. Além do perigo real que significa ter perfis em redes sociais, há também o risco da utilização e venda indiscriminada de dados por parte de empresas que detêm estas informações.

Estar conectado infelizmente é um pré-requisito para a socialização. Não só por motivos fúteis, como manter a conversa em dia e compartilhar as fotos de um evento com os amigos, mas também para estabelecer contatos profissionais, atualizar-se academicamente e não se afastar de pessoas com quem já não se convive mais. Essa configuração moderna de como se estabelecem as relações interpessoais através da internet demanda muito cuidado: não abusar de redes sociais que divulguem informações pessoais desnecessárias, tentar usar o mínimo de fotos e dar menos informações sobre moradia e parentesco. Contudo, quando o pretexto das redes sociais é o divertimento e o compartilhamento de informações, isto fica cada vez mais difícil.

Há, por exemplo, uma rede social chamada Foursquare. Nela, o usuário aciona o GPS para identificar sua localização e divulga para a sua rede o local onde se encontra naquele exato momento. Em uma época na qual muitos já foram vítimas do golpe do sequestro pelo telefone, usar esse tipo de aplicativo é leviano.

Claro, quando a intimidade e a privacidade são devassadas dessa forma, o culpado é o usuário. Naturalmente, não se pode atribuir a ele uma culpa exclusiva, porque se supõe ingenuamente que as outras pessoas não agirão de má fé. Para exemplificar ainda mais o movimento de exposição da própria vida privada, podemos, além de falar do Twitter e do Facebook, mencionar o Blippy. Trata-se de uma rede social em que uma pessoa pode cadastrar seu cartão de crédito e, tão logo faça uma compra, divulga a informação da compra entre os amigos.

No Direito, existe um conceito chamado “direito indisponível”, quando nem o próprio indivíduo pode alienar, abrir mão ou dispor de qualquer maneira de um direito seu. Em linhas gerais, é o que acontece com o direito à vida, já que um indivíduo não pode cometer suicídio. O direito à privacidade deveria tornar-se “indisponível”. É óbvio que esta é apenas uma alegoria apropriada para um tempo em que a publicidade já ultrapassa até as fronteiras das informações financeiras. Mas cabe a reflexão: não dispomos demais da nossa vida privada? Será que um dia não vamos nos arrepender?



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 12 de janeiro de 2013.

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