Certo dia, folheando uma revista semanal, vi uma charge que poderia ser
descrita da seguinte forma: dois homens, com trajes medievais, conversavam
diante de um livro. Um deles dizia: “interessante este tal de ‘livro’, mas,
enquanto houver leitores, haverá o pergaminho”. O desenho é uma crítica das
mais sagazes àqueles que dizem que o livro impresso permanecerá para sempre,
enquanto houver quem goste de ler. Não é bem assim.
Conheço muita gente que não consegue fazer leituras muito extensas no
computador e chega até a imprimir um texto para lê-lo em papel. Ler no papel é
infinitamente mais prazeroso do que ler em uma tela, que causa dor nos olhos e
desconforto nas costas. É aí que entram as inovações tecnológicas: os tablets,
que evitam que nós fiquemos horas inclinados diante das telas de PC’s; e a
folha eletrônica, espécie de tela que não possui brilho e não causa desconforto
aos olhos.
Apesar de todo este avanço ao proporcionar qualidade de leitura em
aparelhos eletrônicos, ainda há os que resistem à iminente transformação que
vai chegar para todos, que é a mudança do livro escrito para o livro digital.
Dizem que nada jamais substituirá o prazer de ler um livro, sentir o cheiro da
folha nova, o peso do calhamaço de papel, a coleção de marcadores de páginas,
as belas capas e estantes abarrotadas de títulos.
Realmente, talvez seja um prazer insubstituível. Podemos até supor que,
à época da (hipotética) mudança do pergaminho para o livro, ler em pergaminho
fosse extremamente mais prazeroso, um prazer insubstituível. Todavia, esta
transição – meramente ilustrativa, diga-se de passagem – certamente não fora
feita pelo prazer de leitura de um instrumento ou de outro, mas pela sua praticidade.
Quantas obras literárias e acadêmicas foram produzidas desde invenção da
escrita até os dias de hoje? Naturalmente, nem precisamos ir tão longe: quantas
obras foram produzidas no Brasil nos últimos 50 anos? E continuamos produzindo
livros, todos os dias. Livros de filosofia, romances, livros técnicos e até
mesmo livros sobre vampiros. Não vamos parar de escrever tão cedo. O jornal que
você agora tem nas mãos é a prova do que digo.
Portanto, por mais prazeroso que seja ler em papel, não há biblioteca no
mundo que possa abrigar em seu espaço físico o volume de papel que a humanidade
tende a produzir em termos literários, acadêmicos, científicos ou o que quer
que seja. Para o cotidiano das universidades, por exemplo, é muito mais viável
imaginar uma biblioteca que cresce com livros eletrônicos, sem ocupar espaço,
do que estantes cheias livros desatualizados e inutilizados.
Talvez nada substitua o livro. Quem sabe até o livro jamais tenha sido
substituído à altura pelo pergaminho. Esta questão da substituição de um método
pelo outro é apenas uma divagação passível de crítica. O espaço físico, no
entanto, é definitivamente insubstituível. Afinal, já dizia Newton: dois corpos
não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Mesmo que sejam livros!
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 19 de janeiro de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário