sábado, 19 de janeiro de 2013

Um futuro possível sem os livros de papel


Certo dia, folheando uma revista semanal, vi uma charge que poderia ser descrita da seguinte forma: dois homens, com trajes medievais, conversavam diante de um livro. Um deles dizia: “interessante este tal de ‘livro’, mas, enquanto houver leitores, haverá o pergaminho”. O desenho é uma crítica das mais sagazes àqueles que dizem que o livro impresso permanecerá para sempre, enquanto houver quem goste de ler. Não é bem assim.

Conheço muita gente que não consegue fazer leituras muito extensas no computador e chega até a imprimir um texto para lê-lo em papel. Ler no papel é infinitamente mais prazeroso do que ler em uma tela, que causa dor nos olhos e desconforto nas costas. É aí que entram as inovações tecnológicas: os tablets, que evitam que nós fiquemos horas inclinados diante das telas de PC’s; e a folha eletrônica, espécie de tela que não possui brilho e não causa desconforto aos olhos.

Apesar de todo este avanço ao proporcionar qualidade de leitura em aparelhos eletrônicos, ainda há os que resistem à iminente transformação que vai chegar para todos, que é a mudança do livro escrito para o livro digital. Dizem que nada jamais substituirá o prazer de ler um livro, sentir o cheiro da folha nova, o peso do calhamaço de papel, a coleção de marcadores de páginas, as belas capas e estantes abarrotadas de títulos.

Realmente, talvez seja um prazer insubstituível. Podemos até supor que, à época da (hipotética) mudança do pergaminho para o livro, ler em pergaminho fosse extremamente mais prazeroso, um prazer insubstituível. Todavia, esta transição – meramente ilustrativa, diga-se de passagem – certamente não fora feita pelo prazer de leitura de um instrumento ou de outro, mas pela sua praticidade.

Quantas obras literárias e acadêmicas foram produzidas desde invenção da escrita até os dias de hoje? Naturalmente, nem precisamos ir tão longe: quantas obras foram produzidas no Brasil nos últimos 50 anos? E continuamos produzindo livros, todos os dias. Livros de filosofia, romances, livros técnicos e até mesmo livros sobre vampiros. Não vamos parar de escrever tão cedo. O jornal que você agora tem nas mãos é a prova do que digo.

Portanto, por mais prazeroso que seja ler em papel, não há biblioteca no mundo que possa abrigar em seu espaço físico o volume de papel que a humanidade tende a produzir em termos literários, acadêmicos, científicos ou o que quer que seja. Para o cotidiano das universidades, por exemplo, é muito mais viável imaginar uma biblioteca que cresce com livros eletrônicos, sem ocupar espaço, do que estantes cheias livros desatualizados e inutilizados.

Talvez nada substitua o livro. Quem sabe até o livro jamais tenha sido substituído à altura pelo pergaminho. Esta questão da substituição de um método pelo outro é apenas uma divagação passível de crítica. O espaço físico, no entanto, é definitivamente insubstituível. Afinal, já dizia Newton: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Mesmo que sejam livros!



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 19 de janeiro de 2013.

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