sábado, 8 de dezembro de 2012

Uma cidade engraçada, que não tem teto nem nada


A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro divulgou, na última semana, o IFDM – Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal, que lista as melhores capitais para se viver no Brasil, levando em conta estatísticas divulgadas pelo governo em emprego, renda, educação e saúde. Manaus ficou em último lugar.

Alguém não esperava por isso? Não podemos esperar boa colocação em uma lista de cidades com qualidade de vida se não temos sequer o básico para uma cidade minimamente organizada. Manaus até lembra “A Casa”, de Vinícius de Moraes: era uma casa muito engraçada / não tinha teto / não tinha nada.

Não precisamos buscar os dados oficiais em emprego, renda, educação e saúde para notar que a cidade está aquém do desejado: mal temos calçadas, árvores, ruas e saneamento básico, como querer coisas mais elaboradas? Ademais, carecemos seriamente de boa prestação de serviço em grande parte dos estabelecimentos, sofremos com uma péssima organização urbana e temos um trânsito que nos faz perder tempo e, consequentemente, muito dinheiro.

No trânsito e mobilidade urbana, aliás, temos a sempre promessa de BRT e monotrilho: um expresso que “dessa vez, vai” e um trem-fantasma à la Mad Maria, como dizem as más línguas. Enquanto não ficam prontos, segundo o governador, o Estado pode decretar feriados nos dias de grandes eventos e as pessoas se locomoverão sem maiores problemas. A questão, infelizmente, é que decretar feriados para sempre não aumentará a qualidade de vida do manauense.

Nos aspectos analisados pela FIRJAN, os problemas transbordam. A carência de mão-de-obra qualificada no setor da construção civil, por exemplo, é tamanha, que faltam pedreiros e mestres-de-obras. Na educação, os avanços divulgados são fruto da maquiagem feita pelo ensino público que concede aprovações ano após ano sem qualquer critério qualitativo. O interesse em dar tablets aos alunos da rede pública é grande; o interesse em dar educação de qualidade, nem tanto.

Diante de tudo isso, alguém ainda se espanta com a posição que obtivemos neste ranking? O que é de espantar é que Manaus está entre as 10 cidades mais ricas do país, com o PIB muito próximo de cidades como Curitiba, Belo Horizonte e Porto Alegre, que estão entre as 10 melhores cidades para se viver, segundo o ranking FIRJAN. É claro que estamos inseridos em contextos distintos destas outras capitais. Mas o quão grande é essa diferença que justifique uma disparidade galáctica na qualidade de vida?

Muito dinheiro foi mal administrado para que chegássemos a este nível. A postura da população, portanto, deve ser de cobrança. É muito triste ler que Manaus esteja tão rebaixada, sobretudo para quem é apaixonado pelo rio, pelas pessoas, pela culinária – para quem nasceu e cresceu aqui.

É importante, contudo, manter a indignação e saber cobrar do governo e das pessoas uma postura diferente e que traga resultados positivos – afinal, se nós já fomos a Paris dos Trópicos, temos plena capacidade de voltar ao topo.



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 8 de dezembro de 2012.

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