A Federação das Indústrias do Estado
do Rio de Janeiro divulgou, na última semana, o IFDM – Índice Firjan de
Desenvolvimento Municipal, que lista as melhores capitais para se viver no
Brasil, levando em conta estatísticas divulgadas pelo governo em emprego,
renda, educação e saúde. Manaus ficou em último lugar.
Alguém não esperava por isso? Não
podemos esperar boa colocação em uma lista de cidades com qualidade de vida se
não temos sequer o básico para uma cidade minimamente organizada. Manaus até
lembra “A Casa”, de Vinícius de
Moraes: era uma casa muito engraçada / não tinha teto / não tinha nada.
Não precisamos buscar os dados
oficiais em emprego, renda, educação e saúde para notar que a cidade está aquém
do desejado: mal temos calçadas, árvores, ruas e saneamento básico, como querer
coisas mais elaboradas? Ademais, carecemos seriamente de boa prestação de
serviço em grande parte dos estabelecimentos, sofremos com uma péssima
organização urbana e temos um trânsito que nos faz perder tempo e,
consequentemente, muito dinheiro.
No trânsito e mobilidade urbana,
aliás, temos a sempre promessa de BRT e monotrilho: um expresso que “dessa vez,
vai” e um trem-fantasma à la Mad Maria,
como dizem as más línguas. Enquanto não ficam prontos, segundo o governador, o
Estado pode decretar feriados nos dias de grandes eventos e as pessoas se
locomoverão sem maiores problemas. A questão, infelizmente, é que decretar
feriados para sempre não aumentará a
qualidade de vida do manauense.
Nos aspectos analisados pela FIRJAN,
os problemas transbordam. A carência de mão-de-obra qualificada no setor da
construção civil, por exemplo, é tamanha, que faltam pedreiros e
mestres-de-obras. Na educação, os avanços divulgados são fruto da maquiagem
feita pelo ensino público que concede aprovações ano após ano sem qualquer
critério qualitativo. O interesse em dar tablets
aos alunos da rede pública é grande; o interesse em dar educação de qualidade,
nem tanto.
Diante de tudo isso, alguém ainda se
espanta com a posição que obtivemos neste ranking? O que é de espantar é que
Manaus está entre as 10 cidades mais ricas do país, com o PIB muito próximo de
cidades como Curitiba, Belo Horizonte e Porto Alegre, que estão entre as 10
melhores cidades para se viver, segundo o ranking FIRJAN. É claro que estamos inseridos
em contextos distintos destas outras capitais. Mas o quão grande é essa
diferença que justifique uma disparidade galáctica na qualidade de vida?
Muito dinheiro foi mal administrado
para que chegássemos a este nível. A postura da população, portanto, deve ser
de cobrança. É muito triste ler que Manaus esteja tão rebaixada, sobretudo para
quem é apaixonado pelo rio, pelas pessoas, pela culinária – para quem nasceu e
cresceu aqui.
É importante, contudo, manter a indignação
e saber cobrar do governo e das pessoas uma postura diferente e que traga
resultados positivos – afinal, se nós já fomos a Paris dos Trópicos, temos
plena capacidade de voltar ao topo.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 8 de dezembro de 2012.
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