Não é preciso ser crítico
especializado para falar sobre diversas coisas: uma estreia no cinema, o álbum
novo de um músico ou até, com um pouco de esforço, a instalação de um artista
plástico. Na verdade, muitas vezes a opinião do público se coaduna com o
parecer da crítica especializada, como vemos todos os anos nas premiações do
Oscar e do Grammy ou no Nobel de literatura.
No entanto, na grande maioria das
vezes, as coisas são boas ou ruins, ponto. Por exemplo, por mais elaborado que
seja o prato de um grande chef francês, o seu sabor não deve ser inacessível ao
mais ignorante dos homens; caso contrário, o prato é simplesmente ruim. Da
mesma forma, um grande chef francês não deve deixar de reconhecer o sabor maravilhoso
de um doce caseiro. Na gastronomia, não há muitas voltas a dar: as coisas são
saborosas ou não, ainda que tenham sabores complexos.
O humor também é mais ou menos
assim. Digo “mais ou menos” porque algumas pessoas têm o riso frouxo e riem de tudo,
e outras são mais sisudas e não riem de nada; também porque algumas pessoas gostam
de humor negro, ao passo que outras pessoas não o suportam; finalmente, é
preciso ressalvar que algumas piadas, sobretudo as profundamente irônicas,
exigem um grau de instrução que nem todas as pessoas possuem. No mais, é
possível reduzir as críticas de humor a algo simples: ou é engraçado ou não é.
O Brasil tem sido feliz no humor nos
últimos anos. O cinema melhorou muito. A televisão, conquanto não tenha passado
por nenhuma inovação, manteve-se bem, e houve também o aparecimento e expansão
de uma modalidade muito interessante de fazer piada, o “stand up comedy”, normalmente traduzido como “comédia em pé”.
Trata-se de uma pessoa fazendo comédia sem maquiagem ou fantasia, em pé e
diante de uma plateia, apenas comentando com sarcasmo e chiste as situações
curiosas do cotidiano.
O problema é que as apresentações de
stand up comedy se limitam a sessões
em teatros, e a comédia feita na televisão e no cinema passa por restrições
bastante compreensíveis em função dos horários e do público. Então como fazer
humor com qualidade e liberdade? A internet deu a resposta.
Um grupo de comediantes, atores,
publicitários e artistas, muitos dos quais já com passagem pela televisão,
fundou um canal de vídeos no YouTube e
passou a publicar semanalmente esquetes de humor sem as amarras da televisão,
sem as limitações de público dos teatros: chama-se “Porta dos Fundos”.
Com pouco mais de um mês no ar, os
vídeos do “Porta dos Fundos” já possuem quase de 40 milhões de exibições, mais
de 250 mil pessoas inscritas, e o programa já foi notícia em inúmeros sites e
revistas das áreas de entretenimento e negócios. Na última semana,
merecidamente, o canal recebeu o prêmio APCA de melhor programa de humor da TV.
Sem estar na TV. Mais uma vez, agora no humor, a internet gerou uma revolução
de criatividade e inovação. Quais serão os próximos passos?
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 15 de dezembro de 2012.
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