Sem meias palavras, “sustentabilidade” é o grande tema do século XXI
e está cada vez mais presente nas cobranças do mundo em relação à sociedade:
devemos ter uma casa sustentável, um trabalho sustentável e, sobretudo, meios
de transporte sustentáveis. Em Manaus, o tema ganha mais intensidade com a
projeção internacional da cidade em conferências e eventos que reforçam a
responsabilidade da “capital da Amazônia” em dar o exemplo de preservação do
meio-ambiente. Neste contexto, somado ao fato de Manaus passar por uma crise de
mobilidade urbana, a bicicleta passou a figurar como a grande alternativa da
cidade à poluição e ao transporte.
É inegável que andar de bicicleta seja mesmo sustentável e prazeroso:
sentimos a brisa leve no rosto ao pedalar e não há emissão de poluentes. Com a
bandeira da bicicleta hasteada, diversos grupos passaram a solicitar do governo
a construção de ciclovias, e isso se tornou até propaganda política das últimas
eleições. Como solução para a mobilidade urbana, no entanto, a bicicleta não é
uma alternativa viável. Propô-la para resolver a situação caótica do trânsito é
bem intencionado, mas ingênuo. É óbvio que quanto mais uma população pedalar, maior
será a sua qualidade de vida; mas isso, por si só, não configura a solução dos
nossos problemas.
Há aqueles que, na melhor das intenções, sustentam que a bicicleta
foi a solução de algumas metrópoles para os problemas de trânsito, bastando construir
ciclovias para que o modelo funcionasse aqui. De fato, o modelo já funcionou em
grandes cidades, mas todas elas com características muito distintas de Manaus,
como Barcelona, Paris, Copenhagen e Munique.
O nosso clima, em primeiro lugar, não é propício para a atividade.
Para fazer com que as pessoas fossem ao trabalho de bicicleta em Manaus, seria
necessário instalar em todas as empresas e órgãos públicos vários e bons
banheiros, já que é impossível não chegar suado em qualquer trajeto que envolva
esforço físico na nossa cálida cidade.
Além disso, nestas cidades, as pessoas geralmente moram próximas ao
trabalho e, em isso não acontecendo, há uma malha metroviária extensa. O metrô
de Paris, por exemplo, tem quase três vezes o tamanho do metrô de São Paulo –
considerado o melhor metrô da América Latina. Seria injustíssimo pedir a um
trabalhador do Distrito Industrial que fosse da sua casa até o trabalho de
bicicleta; também seria injusto pedir para que ele levasse a bicicleta no
ônibus, que, em Manaus, não transporta bem nem as pessoas.
Portanto, por mais simples que seja a bicicleta, a cidade ainda não
está preparada para ela. Talvez, em função do calor, jamais esteja, a não ser
para passeio. Os carros em Manaus representam aproximadamente 20% das pessoas
que se transportam, e ocupam 80% do espaço das vias. Quem sabe, ao invés da
bicicleta, não devêssemos incentivar mais as caronas?
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 2 de fevereiro de 2013.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 2 de fevereiro de 2013.
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