domingo, 3 de fevereiro de 2013

Manaus: cidade para bicicletas ou caronas?


Sem meias palavras, “sustentabilidade” é o grande tema do século XXI e está cada vez mais presente nas cobranças do mundo em relação à sociedade: devemos ter uma casa sustentável, um trabalho sustentável e, sobretudo, meios de transporte sustentáveis. Em Manaus, o tema ganha mais intensidade com a projeção internacional da cidade em conferências e eventos que reforçam a responsabilidade da “capital da Amazônia” em dar o exemplo de preservação do meio-ambiente. Neste contexto, somado ao fato de Manaus passar por uma crise de mobilidade urbana, a bicicleta passou a figurar como a grande alternativa da cidade à poluição e ao transporte.

É inegável que andar de bicicleta seja mesmo sustentável e prazeroso: sentimos a brisa leve no rosto ao pedalar e não há emissão de poluentes. Com a bandeira da bicicleta hasteada, diversos grupos passaram a solicitar do governo a construção de ciclovias, e isso se tornou até propaganda política das últimas eleições. Como solução para a mobilidade urbana, no entanto, a bicicleta não é uma alternativa viável. Propô-la para resolver a situação caótica do trânsito é bem intencionado, mas ingênuo. É óbvio que quanto mais uma população pedalar, maior será a sua qualidade de vida; mas isso, por si só, não configura a solução dos nossos problemas.

Há aqueles que, na melhor das intenções, sustentam que a bicicleta foi a solução de algumas metrópoles para os problemas de trânsito, bastando construir ciclovias para que o modelo funcionasse aqui. De fato, o modelo já funcionou em grandes cidades, mas todas elas com características muito distintas de Manaus, como Barcelona, Paris, Copenhagen e Munique.

O nosso clima, em primeiro lugar, não é propício para a atividade. Para fazer com que as pessoas fossem ao trabalho de bicicleta em Manaus, seria necessário instalar em todas as empresas e órgãos públicos vários e bons banheiros, já que é impossível não chegar suado em qualquer trajeto que envolva esforço físico na nossa cálida cidade.

Além disso, nestas cidades, as pessoas geralmente moram próximas ao trabalho e, em isso não acontecendo, há uma malha metroviária extensa. O metrô de Paris, por exemplo, tem quase três vezes o tamanho do metrô de São Paulo – considerado o melhor metrô da América Latina. Seria injustíssimo pedir a um trabalhador do Distrito Industrial que fosse da sua casa até o trabalho de bicicleta; também seria injusto pedir para que ele levasse a bicicleta no ônibus, que, em Manaus, não transporta bem nem as pessoas.

Portanto, por mais simples que seja a bicicleta, a cidade ainda não está preparada para ela. Talvez, em função do calor, jamais esteja, a não ser para passeio. Os carros em Manaus representam aproximadamente 20% das pessoas que se transportam, e ocupam 80% do espaço das vias. Quem sabe, ao invés da bicicleta, não devêssemos incentivar mais as caronas?



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 2 de fevereiro de 2013.

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