A afirmação pode parecer bastante esquisita, mas
vamos explicar. Se você acha que designer é só o rapaz que trabalha com
identidade visual no computador, você só está meio certo. Hoje em dia – e há
algum tempo – o conceito de design se expandiu e passou a abranger uma área de resolução
criativa de problemas: o Design Thinking.
É claro que bons gestores alavancam o crescimento e a
resolução de problemas de uma cidade, mas um designer traz a visão inusitada que
pode relevar diversos pontos cegos. O Design Thinking funciona assim: trata-se
de analisar uma situação problemática e, a partir daí, trabalhar soluções
baratas, inovadoras e que, na maioria das vezes, dão mais resultado que as
soluções convencionais. E os exemplos são inúmeros.
Na Alemanha, a terra da cerveja, um bar possuía sério
problema com a limpeza dos banheiros masculinos. A certa hora da noite, os
homens simplesmente não acertavam mais os mictórios e vasos, fazendo com que o
banheiro ficasse insuportável. O bar tentou as soluções convencionais: sinais de
“mantenha o banheiro limpo”. Os clientes, já embriagados, ignoravam. Uma
consultoria de Design Thinking contratada pelo bar resolveu então abordar de
outra forma: pôs um adesivo de mosca nos vasos e mictórios. Os clientes bêbados
passaram a ter um alvo por simples divertimento e o banheiro deixou de ser o
mais imundo da Baviera.
Em Santo André (SP), a prefeitura iniciou uma
campanha publicitária para incentivar a travessia nas faixas de pedestres.
Notando a baixa efetividade da mera distribuição de panfletos, optou por uma
abordagem mais ousada: contratar atores, vestidos de anjinhos e diabinhos, para
que atravessassem as ruas nas faixas de pedestres, junto com as pessoas. Os
anjos estimulavam a travessia e elogiavam o ato, e os diabos diziam que era
melhor deixar a faixa de lado. A campanha foi um sucesso de público e os
resultados foram bastante promissores.
Basta ser analítico, simples e objetivo – não precisa
se intitular “design thinker” ou contratar atores e adesivar moscas por aí. É o
caso, por exemplo, de Ignatz Semmelweiss, médico austríaco que reduziu de 7,6%
para menos de 1% a taxa de mortalidade de gestantes no Hospital Geral de Viena
em meados do século XIX: obrigando os médicos a lavarem as mãos antes do parto
– prática que não era costumeira e levava ao alto índice de infecções fatais.
Alguns problemas são simplesmente comportamentais.
Logo, pedem soluções que mudem comportamentos – e todos nós sabemos que não é
fácil mudar um comportamento. Talvez a solução para a redução de acidentes no
trânsito seja uma campanha com abordagem diferente, ou talvez uma grande
melhoria na mobilidade urbana não seja a bicicleta ou somente o BRT, mas o
incentivo ao costume da carona: cerca de 20% da população de Manaus utiliza
carros, mas eles ocupam mais ou menos 80% das vias.
Chegamos a um ponto em que Manaus não precisa apenas
de um bom gestor: precisa, sobretudo, de um gestor criativo.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 16 de fevereiro de 2013.
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