domingo, 17 de fevereiro de 2013

Manaus precisa urgente é de um designer de ideias


A afirmação pode parecer bastante esquisita, mas vamos explicar. Se você acha que designer é só o rapaz que trabalha com identidade visual no computador, você só está meio certo. Hoje em dia – e há algum tempo – o conceito de design se expandiu e passou a abranger uma área de resolução criativa de problemas: o Design Thinking.

É claro que bons gestores alavancam o crescimento e a resolução de problemas de uma cidade, mas um designer traz a visão inusitada que pode relevar diversos pontos cegos. O Design Thinking funciona assim: trata-se de analisar uma situação problemática e, a partir daí, trabalhar soluções baratas, inovadoras e que, na maioria das vezes, dão mais resultado que as soluções convencionais. E os exemplos são inúmeros.

Na Alemanha, a terra da cerveja, um bar possuía sério problema com a limpeza dos banheiros masculinos. A certa hora da noite, os homens simplesmente não acertavam mais os mictórios e vasos, fazendo com que o banheiro ficasse insuportável. O bar tentou as soluções convencionais: sinais de “mantenha o banheiro limpo”. Os clientes, já embriagados, ignoravam. Uma consultoria de Design Thinking contratada pelo bar resolveu então abordar de outra forma: pôs um adesivo de mosca nos vasos e mictórios. Os clientes bêbados passaram a ter um alvo por simples divertimento e o banheiro deixou de ser o mais imundo da Baviera.

Em Santo André (SP), a prefeitura iniciou uma campanha publicitária para incentivar a travessia nas faixas de pedestres. Notando a baixa efetividade da mera distribuição de panfletos, optou por uma abordagem mais ousada: contratar atores, vestidos de anjinhos e diabinhos, para que atravessassem as ruas nas faixas de pedestres, junto com as pessoas. Os anjos estimulavam a travessia e elogiavam o ato, e os diabos diziam que era melhor deixar a faixa de lado. A campanha foi um sucesso de público e os resultados foram bastante promissores.

Basta ser analítico, simples e objetivo – não precisa se intitular “design thinker” ou contratar atores e adesivar moscas por aí. É o caso, por exemplo, de Ignatz Semmelweiss, médico austríaco que reduziu de 7,6% para menos de 1% a taxa de mortalidade de gestantes no Hospital Geral de Viena em meados do século XIX: obrigando os médicos a lavarem as mãos antes do parto – prática que não era costumeira e levava ao alto índice de infecções fatais.

Alguns problemas são simplesmente comportamentais. Logo, pedem soluções que mudem comportamentos – e todos nós sabemos que não é fácil mudar um comportamento. Talvez a solução para a redução de acidentes no trânsito seja uma campanha com abordagem diferente, ou talvez uma grande melhoria na mobilidade urbana não seja a bicicleta ou somente o BRT, mas o incentivo ao costume da carona: cerca de 20% da população de Manaus utiliza carros, mas eles ocupam mais ou menos 80% das vias.

Chegamos a um ponto em que Manaus não precisa apenas de um bom gestor: precisa, sobretudo, de um gestor criativo. 



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 16 de fevereiro de 2013.

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