Há algum tempo que o Supremo
Tribunal Federal transmite as sessões dos julgamentos pela TV Justiça, ao vivo,
para todo o país. Por este canal, o povo brasileiro já teve a oportunidade de
acompanhar a declaração de constitucionalidade da união estável de casais
homoafetivos, a permissão de aborto dos fetos anencefálicos, a legalidade da
“Marcha da Maconha”, o julgamento do mensalão e muitas outras questões polêmicas
que passaram pela Corte Constitucional.
Nos últimos dias, a Justiça
brasileira nos presenteou – ou presenteou a imprensa, pelo menos – com a primeira
transmissão ao vivo de um julgamento do tribunal do júri, no “caso Mizael”, do
ex-policial militar acusado de matar a ex-namorada, Mércia Nakashima, não só
pela televisão, como também via internet. Ao autorizar a transmissão, o
juiz-presidente do Tribunal do Júri teria dito aos jornalistas: "a única
coisa que eu não quero nesse julgamento é o sensacionalismo. Espero que a
confiança que depositei nos senhores seja recíproca”.
A iniciativa é salutar, ousada e
pretende aproximar o Poder Judiciário da sociedade civil, “público-alvo” da
atividade jurisdicional enquanto serviço público. Desta forma, o cidadão tem
mais acesso às coisas da lei, se assim desejar. Entretanto, muito embora a medida
seja admirável, não deixa de ter consequências negativas, principalmente quanto
às atuações dos juristas sob os olhos das câmeras.
O problema está justamente na
“hollywoodização” da Justiça, quando juízes, promotores e advogados acham mais
importante o destaque diante da mídia nacional, garantindo mais prestígio e
clientes (no caso dos advogados), do que a defesa das teses jurídicas que
propõem. Neste “caso Mizael”, infelizmente já fomos “brindados” com a
lamentável afirmação do promotor de Justiça para o advogado de defesa: “o diabo
é o pai da mentira. O senhor é amigo do diabo!”. Ora, tudo bem que os ânimos se
exaltam no tribunal do júri, mas isso não pode dar azo ao pavonismo televisionado.
O próprio Supremo Tribunal Federal –
a mais alta Corte do país – muitas vezes sofre dos sintomas desta síndrome,
sobretudo na prolixidade dos votos. É verdade que um voto deva ser bem
fundamentado, mas certos ministros, mesmo com o julgamento já decidido pela
quantidade de votos, fazem questão de ler suas decisões, com longas citações em
alemão ou italiano, e passam a impressão de fazê-lo por pura vaidade.
De todo modo, a ampliação da
publicidade dada aos julgamentos, pela transmissão via televisão e internet,
representa um grande progresso, porque dá à sociedade uma via de acesso mais
técnico às questões de direito, livre de olhares míopes; caso o Poder
Judiciário não faça este movimento de aproximação, deixará a sociedade à mercê
da mídia, que nem sempre é imparcial, honesta e de boa índole. E quanto às
repercussões negativas? Bom, não há nada a fazer: apenas esperar que passe o
“frisson” dos 15 minutos de fama que acomete uns e outros e, se tudo der certo,
em breve voltaremos à “programação normal”.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 16 de março de 2013.
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