domingo, 10 de março de 2013

Por que não te calas?


A frase acima foi dita pelo rei Juan Carlos ao presidente venezuelano recém-falecido, Hugo Chávez, quando da XVII Conferência Ibero-americana, devido às inconvenientes interrupções que Chávez fazia ao então primeiro-ministro da Espanha, José Luís Zapatero. Mas este texto não é sobre o “saudoso” Hugo Chávez, tampouco sobre a Espanha: é sobre a grande virtude que é saber manter-se calado. Virtude que poucos têm.

Na semana passada, os jornais deram duas lamentáveis notícias. A primeira delas foi a de que o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, havia dado uma entrevista a jornalistas estrangeiros e dito que os juízes brasileiros tinham mentalidade “mais conservadora, pró status quo, pró impunidade”, e que os membros do Ministério Público eram “rebeldes, com pouquíssimas exceções”. Vejam bem: este foi o Chefe do Poder Judiciário fazendo, para jornais internacionais, uma declaração extremamente preconceituosa, generalista e retrógrada sobre os juízes brasileiros.

Os magistrados – com razão – ficaram revoltados. Qualquer pessoa que tenha o mínimo de vivência forense (imagine o Presidente do STF!) sabe que as afirmações que Barbosa fez não são verdadeiras. O juiz brasileiro tem mentalidade “mais conservadora”? Pois foi o juiz brasileiro que garantiu, antes mesmo do próprio STF, a união estável homoafetiva, o aborto do feto anencefálico, o direito à greve de funcionários públicos, e muitas outras decisões judiciais históricas. Onde estava Joaquim Barbosa quando isso aconteceu?

A segunda notícia foi a de que Joaquim Barbosa teria dito a um jornalista, aos berros: “vá chafurdar no lixo como você sempre faz!”. Chafurdar significa “revolver-se em lama ou imundícies”. Depois, ao ir embora, ainda chamou o repórter de “palhaço”. Isso é postura de Ministro do Supremo? Joaquim Barbosa já é reconhecido por ser grosseiro com advogados, e agora despeja sua soberba em comunicadores sociais. Pouquíssimas coisas justificariam tal atitude diante da imprensa, e se ele não queria ser alvo da mídia, jamais deveria ter concordado em ser Ministro do STF.

A popularidade que Barbosa alcançou com a sua atuação rigorosa no julgamento do mensalão parece ter-lhe subido à cabeça, gerando um estrelismo exacerbado que não cabe a nenhum juiz. As entidades de classe da magistratura disseram, em nota, que o “isolacionismo” de Barbosa dificulta até o diálogo. Mas é claro! Afinal, por que ele se daria ao trabalho de ouvir os outros juízes do país, se ele é o único detentor da verdade?

Joaquim Barbosa deveria mostrar melhor preparo psicológico para chefiar o Poder Judiciário. Suas declarações e sua postura deixam clara uma “mentalidade” que já foi superada no século passado. Certa vez o Min. Marco Aurélio Mello disse que ser Presidente do Supremo Tribunal Federal exigia sensibilidade e delicadeza, “como um algodão entre cristais”. Joaquim Barbosa, pelo menos com as palavras, não tem se mostrado nem sensível, nem delicado. Portanto, cabe a pergunta: por que ele não se cala?



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 9 de março de 2013.

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