A frase acima foi dita
pelo rei Juan Carlos ao presidente venezuelano recém-falecido, Hugo Chávez,
quando da XVII Conferência Ibero-americana, devido às inconvenientes
interrupções que Chávez fazia ao então primeiro-ministro da Espanha, José Luís
Zapatero. Mas este texto não é sobre o “saudoso” Hugo Chávez, tampouco sobre a
Espanha: é sobre a grande virtude que é saber manter-se calado. Virtude que
poucos têm.
Na semana passada, os
jornais deram duas lamentáveis notícias. A primeira delas foi a de que o
Presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, havia dado uma
entrevista a jornalistas estrangeiros e dito que os juízes brasileiros tinham
mentalidade “mais conservadora, pró status quo, pró impunidade”, e que os
membros do Ministério Público eram “rebeldes, com pouquíssimas exceções”. Vejam
bem: este foi o Chefe do Poder Judiciário fazendo, para jornais internacionais,
uma declaração extremamente preconceituosa, generalista e retrógrada sobre os
juízes brasileiros.
Os magistrados – com
razão – ficaram revoltados. Qualquer pessoa que tenha o mínimo de vivência
forense (imagine o Presidente do STF!) sabe que as afirmações que Barbosa fez não
são verdadeiras. O juiz brasileiro tem mentalidade “mais conservadora”? Pois
foi o juiz brasileiro que garantiu, antes mesmo do próprio STF, a união estável
homoafetiva, o aborto do feto anencefálico, o direito à greve de funcionários
públicos, e muitas outras decisões judiciais históricas. Onde estava Joaquim
Barbosa quando isso aconteceu?
A segunda notícia foi a
de que Joaquim Barbosa teria dito a um jornalista, aos berros: “vá chafurdar no
lixo como você sempre faz!”. Chafurdar significa “revolver-se em lama ou
imundícies”. Depois, ao ir embora, ainda chamou o repórter de “palhaço”. Isso é
postura de Ministro do Supremo? Joaquim Barbosa já é reconhecido por ser
grosseiro com advogados, e agora despeja sua soberba em comunicadores sociais. Pouquíssimas
coisas justificariam tal atitude diante da imprensa, e se ele não queria ser
alvo da mídia, jamais deveria ter concordado em ser Ministro do STF.
A popularidade que
Barbosa alcançou com a sua atuação rigorosa no julgamento do mensalão parece
ter-lhe subido à cabeça, gerando um estrelismo exacerbado que não cabe a nenhum
juiz. As entidades de classe da magistratura disseram, em nota, que o
“isolacionismo” de Barbosa dificulta até o diálogo. Mas é claro! Afinal, por
que ele se daria ao trabalho de ouvir os outros juízes do país, se ele é o
único detentor da verdade?
Joaquim Barbosa deveria
mostrar melhor preparo psicológico para chefiar o Poder Judiciário. Suas
declarações e sua postura deixam clara uma “mentalidade” que já foi superada no
século passado. Certa vez o Min. Marco Aurélio Mello disse que ser Presidente
do Supremo Tribunal Federal exigia sensibilidade e delicadeza, “como um algodão
entre cristais”. Joaquim Barbosa, pelo menos com as palavras, não tem se
mostrado nem sensível, nem delicado. Portanto, cabe a pergunta: por que ele não
se cala?
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 9 de março de 2013.
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