quarta-feira, 6 de março de 2013

Novo jeito de fazer política?


Marina Silva é uma figura de destaque do cenário político nacional: já foi Ministra do Meio Ambiente, Senadora da República e candidata à Presidência com inesperados 20 milhões de votos. Marina é até mesmo reconhecida internacionalmente por sua atuação política, tendo sido convidada para participar da abertura dos Jogos Olímpicos em Londres, como “referência na luta e proteção ao Meio Ambiente”. Em suma, uma personalidade política proeminente, coerente e inovadora.

Nas últimas semanas, complementando o interessante rol de eventos que citei acima, Marina protagonizou mais um episódio importante para o cenário político brasileiro: a criação da Rede Sustentabilidade, seu novo partido. Segundo os jornais, trata-se de um partido que pretende revolucionar o jeito de se fazer política, não só por não ter “partido” no nome, mas principalmente por adotar algumas medidas institucionais que promoverão o combate à corrupção. E qual é a grande novidade? Afinal, todo partido, velho ou novo, diz-se contra a corrupção.

A diferença sutil está entre dizer-se contra a corrupção, como dizem todos os partidos do mundo, e realmente fazer algo para combatê-la; está entre prometer um processo eleitoral transparente, como prometem os partidos todos os anos, e efetivamente utilizar mecanismos para tanto. A “Rede”, como o partido é carinhosamente chamado por seus apoiadores, já divulgou duas medidas anticorrupção que estarão em seu estatuto: primeiro, uma cláusula de doação a exemplo do modelo americano de Obama, em que as doações de pessoas físicas e jurídicas não podem exceder um determinado limite, podendo também ser feitas via internet; e, também, uma cláusula de impedimento de filiação de partidários ficha-suja.

A postura é louvável. Bem diferente da postura do PT, por exemplo, que organizou um evento a fim de que fossem arrecadadas doações para o pagamento da pena de multa de alguns condenados no processo do mensalão: quase um convite à sujeira, um atestado de que não importa quão suja seja a ficha, se houver gente disposta a pagá-la (e apagá-la) com o próprio dinheiro. A moralidade, já cansada de ser ignorada, deveria ser uma preocupação dos próprios partidos, e a “Rede” mostra que isso pode acontecer, e que não necessariamente a política deve esperar um eleitorado mais consciente ou uma legislação mais severa; mas, talvez, candidatos mais sérios.

Transparência eleitoral e aversão a figuras políticas defasadas (e penalmente condenadas) é o mínimo que se espera de um partido sério, e o surgimento da Rede Sustentabilidade – que ainda vai provar se é ou não um partido sério – acusa mais ainda essa necessidade, dando pelo menos o exemplo. Não se sabe qual rumo seguirá esta recém-nascida agremiação política, e aqui não se faz apologia a sua linha ideológica ou algo assim, mas a sua atitude: demonstrar que a mudança urgente pela qual todos esperam pode, quem sabe, vir um partido.



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 2 de março de 2013.

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