sábado, 11 de maio de 2013

A que ponto podemos chegar?


Há cerca duas semanas, as redes de televisão e jornal transmitiram, diretamente do Kentucky (EUA), a notícia de que um menino de 5 anos havia disparado um tiro de rifle contra sua irmã de 2 anos, que faleceu imediatamente. A arma, que já era do menino e havia sido dado a ele por seus pais, fazia parte de uma linha de rifles fabricada especialmente para crianças, chamada “Meu Primeiro Rifle”; segundo o legista da cidade, o episódio foi um destes “acidentes loucos”.

A notícia acima, veiculada nas maiores agências de comunicação do mundo, possui vários traços de anormalidade. O primeiro, obviamente, é o fato de uma criança de 5 anos, independentemente das circunstâncias, ter ceifado a vida de sua irmã de 2 anos. Depois, o fato de tê-lo feito (i) com uma espingarda, (ii) que lhe fora presenteada por seus pais, (iii) de fabricação específica para crianças, (iv) e que resultou numa fatalidade banalmente considerada como “acidental” pelos familiares e amigos da vítima e seu irmão.

Neste caso, volta à baila a discussão sobre o desarmamento, e se é pertinente ou não que a sociedade civil tenha acesso a diversos tipos de armas. Francamente, até que há argumentos plausíveis tanto para aqueles que defendem o desarmamento, quanto para aqueles que defendem uma sociedade armada até os dentes. No entanto, a que ponto podemos chegar quando a ofensividade de uma arma de fogo é simplesmente esquecida? Rifles para crianças? Parece brincadeira.

Defender que uma sociedade possa se armar, caso queira, é até aceitável; contudo, esta opinião não pode se escusar do manto da razoabilidade. É razoável que os pais deem para um filho de 5 anos um rifle carregado e em pleno funcionamento? É razoável que uma empresa, em um país minimamente sério, fabrique rifles destinados ao público infantil sem que isso lhe cause maiores problemas? É razoável que este episódio seja encarado como um destes “acidentes loucos”, em que o resultado vence o improvável? Não, não é; seria até previsível que algo fosse dar errado.

A morte da pequena Caroline Starks, de 2 anos, não foi um mero “acidente louco”, mas um desastre causado pela leviandade no trato com a vida. É evidente que, ao entregar uma quantidade enorme de armas nas mãos de pessoas despreparadas, esse tipo de “acidente” aconteça; e então ele deixa de ser acidente e passa a ser pura e simples irresponsabilidade.

Coitado de seu irmão, de 5 anos, que certamente ainda não entendia – pelo menos não até ter matado a própria irmã – toda a potencialidade lesiva daquela arma colorida (pois que fique bem claro: a linha de rifles fabricada para crianças é até mesmo colorida!). Coitados dos pais que, achando normal dar um rifle de presente ao filho menor impúbere, perderam a filha. Coitada da sociedade americana, que mais uma vez teve de passar por um destes “acidentes loucos”, e que poderia ter sido evitado. Que este triste episódio sirva de reflexão, para que aprendam de uma vez: arma não é brinquedo.



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 11 de maio de 2013.

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