Deu nos
jornais: “Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprova proposta de cotas
raciais para deputados”. Mais uma vez, é o Legislativo “jogando para a
torcida”, com o fim de legislar absurdos e fazer populismo próximo às eleições.
Pergunta-se: para que instituir cotas raciais no parlamento? A cota é uma ação
afirmativa, política pública que tem o objetivo de sanar, paliativamente,
alguma disparidade social. Nas eleições, contudo, ela não faz sentido.
Façamos
um paralelo com a educação. Nas universidades, é até interessante a existência
de cotas (como medida temporária, evidentemente), já que todos têm direito à
educação e, no entanto, as vagas são limitadas. Aliás, a educação é dever do
Estado e, acima de tudo, um direito fundamental do cidadão, o qual, em tese,
não pode ser negado em hipótese alguma. A atividade parlamentar, todavia é uma
opção entre candidato e eleitores, durante o processo eleitoral, sem requisitos
muito específicos ou coisa que o valha. Por que, então, instituir cotas em uma
atividade que é opcional (e não obrigatória) e, sobretudo, já é, por essência,
acessível?
É o
jeitinho brasileiro de promover a igualdade: a democracia demagógica e “nas
coxas”, com claro objetivo eleitoreiro. Mas essa história de “legislar para a
torcida” motiva outras aventuras, mesmo em Manaus. Há um outdoor, espalhado
pela cidade, que mostra algumas “propostas” de um deputado estadual: “menos
tempo nas filas”, “mais médicos”, “melhor atendimento”... Ora, isso lá é
proposta? No máximo, é um anseio geral; “proposta”, entretanto, é algo em que
constam os meios e recursos para conseguir atingir determinada finalidade.
Outdoors como este, muito aquém de propostas, querem apenas exibir a ideia de
“estou trabalhando, votem em mim nas próximas eleições”.
Outro
outdoor curioso, já não mais em circulação, mostrava o rosto de um deputado
estadual (não o mesmo), e algo como “o serviço de telefonia tem que melhorar, e
o preço tem que baixar!”. É verdade... Mas não é óbvio? Duas coisas assustam: a
primeira, gastar dinheiro em uma propaganda com uma obviedade absurda dessas; a
segunda, é que simplesmente não é competência de um deputado estadual legislar
sobre os serviços de telefonia, matéria que é de competência exclusiva da União
(art. 21, inciso XI, da Constituição da República). Em suma: o outdoor, além de
óbvio, contém uma indignação vazia de conteúdo, mas cheia de autopromoção.
Estes
são retalhos de um Poder Legislativo ineficiente e que busca “mostrar serviço”
com atos e leis que, não raro, mais atrapalham do que ajudam. Em “Amor nos
tempos do cólera”, de Gabriel Garcia Márquez, o personagem Lorenzo Daza dizia
que a pior coisa que a má saúde era a má fama. No Brasil, a frase teria de ser
adaptada. Aqui não há “pior” ou “melhor”, porque algumas coisas andam em pé de
igualdade: a má saúde (da população), a má educação (das crianças), a má
infraestrutura (das cidades) e, por fim, a má fama do Legislativo.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 2 de novembro de 2013.
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