Nelson
Mandela morreu, mas suas lutas ainda continuam muito vivas. Falecido no último
dia 5 de dezembro, Nelson “Madiba” Mandela foi um dos mais promissores
políticos da história mundial recente, tendo presidido a África do Sul de 1994
a 1998, após mais de 25 anos em prisão política no seu próprio país, por haver
se rebelado contra a injustiça, a desigualdade e a tirania. A descrição é
breve, mas a verdade é que Nelson Mandela dispensa qualquer apresentação.
Uma
das maiores batalhas de Madiba foi contra o Apartheid, um regime de segregação
racial que durou quase 50 anos e que dividia a população sul-africana em grupos
de “negros”, “brancos”, “de cor” e “indianos”, por exemplo. Em 1994, com a
eleição de Mandela e o fim oficial do Apartheid (precedido, evidentemente, de
alguns anos de negociações), houve o triunfo da igualdade e da democracia; e a
queda da discriminação. Em tese.
A
morte de Mandela deve servir para nos lembrar de que suas causas não foram vencidas
e, por mais que ele tenha sido vitorioso em algumas de suas empreitadas
políticas, ainda há por demais racismo e discriminação na África do Sul e no
mundo – em especial no Brasil. Nelson Mandela se foi e, por isso, devemos reforçar
que aquilo que ele combatia permanece e deve continuar sendo combatido. O
Apartheid teve um fim “oficial”, mas todos os dias é possível ver segregação
nas ruas, nas escolas e no trabalho – e a igualdade, garantida pela lei, serve
para quê?
Segundo
Nietzsche, a igualdade é um conceito artificial, falso e corruptivo, inventado
pelos homens mais fracos para contrapor o poder dos homens mais fortes; na
natureza, diz ele, não haveria igualdade. É possível concordar com o filósofo?
Certamente a igualdade é um conceito desenvolvido pelo homem, a partir de sua
racionalidade, mas isso não significa que seja um conceito “falso e
corruptivo”. É, na realidade, um “trabalho” em constante progresso, que deve
ser sempre incentivado; suas bases devem sempre ser fortalecidas.
Por
essa razão não devemos rememorar a morte de Mandela apenas emocionadamente,
como sugerem com ingenuidade jornais e televisão, e achar que a luta pela
desigualdade social e racial fora vencida há anos. Ainda vivemos em uma
sociedade desigual, e a morte de Nelson Mandela deve reforçar a luta (por vezes
esquecida e morna) pela dignidade de mulheres, negros, homossexuais,
deficientes físicos, presidiários etc., que têm de (con)viver constantemente
com o preconceito, o despreparo da administração pública e as suas próprias
dificuldades.
Nessa
última semana, em meio às comoções pelo falecimento de Madiba, um dos mestres
da Jaqueira, João Thomas Luchsinger, disse que Nelson Mandela não havia
morrido, e que, enquanto existissem o ódio e a injustiça, existiria seu exemplo
de vida. De fato, não há outra conclusão senão esta. Morre um ícone da luta
pela democracia (aquela, em que idealmente há a igualdade), e subsistem os
demônios da discriminação racial e do preconceito. Morre um ícone, mas continua
a sua luta.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 14 de dezembro de 2013.
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