sábado, 21 de dezembro de 2013

Adeus, Madiba

Nelson Mandela morreu, mas suas lutas ainda continuam muito vivas. Falecido no último dia 5 de dezembro, Nelson “Madiba” Mandela foi um dos mais promissores políticos da história mundial recente, tendo presidido a África do Sul de 1994 a 1998, após mais de 25 anos em prisão política no seu próprio país, por haver se rebelado contra a injustiça, a desigualdade e a tirania. A descrição é breve, mas a verdade é que Nelson Mandela dispensa qualquer apresentação.

Uma das maiores batalhas de Madiba foi contra o Apartheid, um regime de segregação racial que durou quase 50 anos e que dividia a população sul-africana em grupos de “negros”, “brancos”, “de cor” e “indianos”, por exemplo. Em 1994, com a eleição de Mandela e o fim oficial do Apartheid (precedido, evidentemente, de alguns anos de negociações), houve o triunfo da igualdade e da democracia; e a queda da discriminação. Em tese.

A morte de Mandela deve servir para nos lembrar de que suas causas não foram vencidas e, por mais que ele tenha sido vitorioso em algumas de suas empreitadas políticas, ainda há por demais racismo e discriminação na África do Sul e no mundo – em especial no Brasil. Nelson Mandela se foi e, por isso, devemos reforçar que aquilo que ele combatia permanece e deve continuar sendo combatido. O Apartheid teve um fim “oficial”, mas todos os dias é possível ver segregação nas ruas, nas escolas e no trabalho – e a igualdade, garantida pela lei, serve para quê?

Segundo Nietzsche, a igualdade é um conceito artificial, falso e corruptivo, inventado pelos homens mais fracos para contrapor o poder dos homens mais fortes; na natureza, diz ele, não haveria igualdade. É possível concordar com o filósofo? Certamente a igualdade é um conceito desenvolvido pelo homem, a partir de sua racionalidade, mas isso não significa que seja um conceito “falso e corruptivo”. É, na realidade, um “trabalho” em constante progresso, que deve ser sempre incentivado; suas bases devem sempre ser fortalecidas.

Por essa razão não devemos rememorar a morte de Mandela apenas emocionadamente, como sugerem com ingenuidade jornais e televisão, e achar que a luta pela desigualdade social e racial fora vencida há anos. Ainda vivemos em uma sociedade desigual, e a morte de Nelson Mandela deve reforçar a luta (por vezes esquecida e morna) pela dignidade de mulheres, negros, homossexuais, deficientes físicos, presidiários etc., que têm de (con)viver constantemente com o preconceito, o despreparo da administração pública e as suas próprias dificuldades.

Nessa última semana, em meio às comoções pelo falecimento de Madiba, um dos mestres da Jaqueira, João Thomas Luchsinger, disse que Nelson Mandela não havia morrido, e que, enquanto existissem o ódio e a injustiça, existiria seu exemplo de vida. De fato, não há outra conclusão senão esta. Morre um ícone da luta pela democracia (aquela, em que idealmente há a igualdade), e subsistem os demônios da discriminação racial e do preconceito. Morre um ícone, mas continua a sua luta.



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 14 de dezembro de 2013.

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