segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Quem somos nós?

Certa vez, conversando com um amigo, ele me contou que resolvera visitar um psicólogo, porque queria apertar um pouco seus parafusos. Contou-me que havia relutado muito, mas que um belo dia tinha ligado para o consultório e marcado um horário. Lá chegando, acomodou-se no divã e, após as considerações iniciais de praxe, ouviu a seguinte pergunta vinda do terapeuta: “quem é você?”.

Disse que não soube responder e que, diante do fato de simplesmente não poder responder àquela pergunta, desabou em lágrimas. Chorava copiosamente enquanto se dava conta de que não sabia quem era ele próprio, até que enfim se acalmou a deu curso à consulta. E a partir daí eu já tinha deixado de prestar atenção no relato sobre a primeira sessão de terapia e me concentrava, incomodado, na pergunta que tinha deixado meu colega tão fora de si: “quem é você?”.

Albert Camus, escritor francês, possui uma célebre frase: “Se queres ser reconhecido, é só dizeres quem és. Creio que não sabemos quem somos. O que alguém faz, no fundo, é muito mais importante do que o que sabe sobre si mesmo”. José Saramago, noutro passo, dizia que viver sem saber onde estamos era algo na vida que não poderia suportar, e arrematava com ironia: “Sim, estamos na Terra, no sistema solar, na galáxia, mas realmente onde estamos?”. Pois não creio que saibamos.

A existência humana é marcada pela ignorância e pela dúvida; a curiosidade e a busca pelo conhecimento são consequências disso, e a Filosofia e a Ciência, que mais nos dão novas perguntas do que novas respostas, estão aí para nos provar isso. E nós, quem somos? A esse questionamento é quase impossível responder. Sabemos quem amamos, o que comemos, com o que trabalhamos e o que gostamos de fazer nas horas vagas, mas jamais poderemos afirmar com certeza que sabemos quem somos.

Por esse motivo, muito provavelmente, é o que homem vive em conflito com o mundo: porque não se conhece e não consegue resolver seus conflitos internos. Lembro-me de outra anedota. Visitei um “clube do livro” outro dia, apesar de não ter lido o livro que havia sido indicado para a reunião; justamente por não ter lido o livro, fiz questão de atentar para os debates. Já não me recordo o enredo, mas grande parte das discussões versou sobre “descoberta” e “consciência” do próprio caminho, e sobre como o indivíduo busca conhecer a si próprio, exatamente por ser insipiente.


Depois de ter ficado a reunião toda calado (afinal, não tinha lido o livro!), fui questionado sobre o tema em pauta. Confesso que pensei pouco e acabei falando qualquer besteira que, na hora, me tinha soado como puro artifício de retórica... Horas depois, pensando sobre o assunto, cheguei à conclusão de que não tinha ido tão mal, e que minhas palavras até que faziam algum sentido. E se fôssemos a eterna busca pelo autoconhecimento? Enxergamos a vida sob uma ótica embaçada, e todos os dias tentamos “limpar a janela” dos nossos olhos, desconstruir nossas impressões e expectativas, e nos conhecer melhor. É isso que somos?



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 7 de dezembro de 2013.

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