segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Gargalos eternos

Até quando o sistema prisional brasileiro continuará a tratar seus detentos como animais? Temos visto episódios, no Amazonas e no Brasil, que apontam que “presos não são pessoas”, e que essa concepção não tende a mudar tão cedo. Para quem convive com a violência é difícil admitir que o criminoso também necessite de dignidade; a comoção gerada pela criminalidade faz com que o cidadão comum tenha, justificadamente, muito receio em olhar o criminoso com condescendência. Todavia, pouca gente “escolhe” cometer um crime, e no mais das vezes o comete por conta de circunstâncias alheias a sua própria existência – e essa perspectiva distanciada e sensata é obrigação do Estado Democrático. Por que privar o detento, então, de um mínimo de higiene em sua vida de clausura?

Certo que é muito melhor construir mais escolas que presídios, e também é certo que o investimento na educação reduz, a longo prazo, a criminalidade e, por consequência, a necessidade de própria existência dos presídios. O que não é viável, no entanto, é permanecer na situação em que o Brasil se encontra, na qual pessoas (ora, seres humanos!) se amontoam em penitenciárias, cadeias e até delegacias, sem ter leito, banho ou comida.

Todos os anos são assim: rebeliões aqui e acolá, fuga de presos, notícias de violações aos direitos humanos, uma visitinha do Ministro da Justiça para que uma situação de emergência seja apaziguada, apoio da Força Nacional... O sistema prisional é um gargalo eterno e irresolvível. É eterno porque é como o carnaval, tem todos os anos; é irresolvível porque falta vontade política para resolvê-lo. Anualmente nos deparamos com esse problema e sempre o ignoramos.

Casos de presidiários que adquiriram doenças (como hepatite ou AIDS) ou que foram injustificadamente mortos durante o cárcere são mais comuns do que se imagina, fora os casos em que pessoas são mantidas encarceradas por engano, em decorrência de algum erro judiciário, e acabam se submetendo a esse mesmo risco. “Preferiria morrer a passar um dia num presídio brasileiro”, disse certa vez o atual Ministro da Justiça. A declaração é sintomática, e denota a gravidade de um dos muitos cancros que corroem o Brasil.

Não sei se um dia chegaremos ao modus operandi dos Estados Unidos, que têm uma população carcerária assustadoramente grande e que possuem uma política criminal agressiva; ou se chegaremos ao patamar da Holanda, que estuda fechar prisões – pasmem! – por falta de presos. O mais provável é que daqui a alguns anos sequer tenhamos saído da lamentável situação em que estamos.


Enquanto isso, a situação vai se agravando e pouco ou nada se faz pelas prisões e pelos presos. No máximo uma eventual entrevista no jornal da manhã, após alguma tragédia, para acalmar os ânimos da população e dizer, sem muita convicção, que algo está sendo feito... Mas será mesmo? Afinal, uma coisa é certa: investir em “bandido” não dá voto e não garante reeleição.



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 11 de janeiro de 2014.

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