A internet
mudou a dinâmica de muitas coisas em pouco mais de 20 anos: o modo como
namoramos, procuramos empregos, nos expressamos; mudou também a dinâmica de
como se movimenta informação. O dicionário, que antes era o “pai dos burros”,
perdeu a posição para o Google; a
televisão teve que encarar o YouTube;
o boca-a-boca agora é pelo Twitter e
por aí vai.
Em meio a isso
tudo, surge o Facebook (com seu botão
compartilhar), para alterar ainda
mais o jeito pelo qual milhares de pessoas manifestam uma indignação em comum,
uma paixão, um hábito, uma frase. Além disso, a rede social mais popular do
momento tornou-se a “espada” de revolucionários virtuais contra a corrupção, a
falta de investimentos em saúde e educação, a pobreza e as injustiças da
sociedade: lutar contra tudo isso está a um clique de distância.
Mas será que
basta compartilhar uma imagem ou um texto no Facebook para cumprir o papel de cidadão ativo? Será que disseminar
pensamentos revoltosos contra a corrupção já é combatê-la? Apesar da duvidosa
eficácia do trabalho dos militantes virtuais, duas coisas boas surgem dessa
história: as pessoas agora possuem mais informação e também tecem mais opiniões
sobre as coisas que acontecem ao seu redor.
É importante
ter uma opinião, ainda que tímida, delirante ou até mesmo comprovadamente
errada. Quanto à informação, é uma questão de quantidade ou qualidade? De fato,
cresceu o acesso à informação graças a essas novas mídias e redes sociais, mas
muitas vezes é a informação errada, a desinformação.
Estamos diante
de um grande perigo, qual seja o de as pessoas estarem se revoltando e se
insurgindo sem nem saber por que ou pelo que, ou com base em enganos, falácias
ou mentiras.
A partir daí,
como a metástase de um câncer, começam a se espalhar correntes com informações
absurdas ou dados falsos. Quem se lembra da “polêmica” com as palmeiras do
condomínio Ephigênio Salles? Compartilhamento inocente de alguém que
simplesmente não sabia que ali ocorria uma ação ecológica autorizada pela Prefeitura.
Os exemplos são inúmeros: comparações teratológicas, estatísticas sem referências,
informações falsas sobre a Lei da Ficha Limpa, o auxílio-reclusão,
bolsa-família, salários de funcionários públicos, votos nulos e eleições,
citações atribuídas a autores que jamais falaram nada daquilo e muito mais,
espalhando-se pela rede como verdades incontestáveis.
O que ocorre é
o verdadeiro estupro da informação e de tudo o que ela significa. Na era do
“Pai Google”, a notícia que vem é suficiente, e quase ninguém se dá ao trabalho
de verificar fontes e fatos, ocupando-se apenas de passar mentiras adiante como
se isso esgotasse as possibilidades de agir, como se fosse expressão máxima da
guerra contra tudo que existe de ruim e errado na vida.
Nós precisamos
entender que o mundo não precisa de Che Guevaras virtuais, mas de mais pessoas razoáveis, críticas, curiosas e bem-informadas
dentro e fora do Facebook.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 14 de setembro de 2012.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 14 de setembro de 2012.
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