Dada a largada
na corrida pela prefeitura no pleito de 2012, não tardaram a surgir notícias em
todos os veículos de comunicação sobre candidatos buscando apoio de grupos
religiosos. De repente, em todos os cantos, prefeituráveis exibiam uma devoção
inabalável, coincidindo curiosamente com a busca por votos.
Não duvido da
fé de ninguém, mas acho estranho: como é comum adesivar carros, distribuir
panfletos e fazer comícios, virou comum ir à igreja mais próxima e firmar
aliança com um segmento religioso, buscando ser recomendado ou indicado por um
líder litúrgico como o candidato certo para aquele cargo.
Mas foi Deus
quem escolheu? Seria a versão democrática da teocracia? Certas igrejas em
Manaus possuem mais de 100 mil adeptos, e ser o “eleito de Deus” em uma eleição
municipal com tamanho apoio é uma vantagem política assustadora. Infelizmente,
esses episódios pouco parecem ter relação com a fé e a devoção, e mais com a
ambição de sentar na cadeira de chefe do Executivo municipal.
A separação
entre religião e administração pública não vem daquele já cansado Princípio da
Laicidade do Estado, que ainda vigora, mas do simples fato de que cada um
possui seu negócio e não quer interferência de ninguém nele.
O Estado já não
diz quem ele quer que ocupe cargos nas igrejas; e as igrejas já não ditam com
quem o Estado deve firmar alianças políticas ou econômicas. As intervenções das
igrejas em questões como o aborto e a união homoafetiva são apenas questões
públicas e pleitos sociais a que têm direito todos os setores da sociedade, e
não representam disputa eleitoral pelo poder.
O que fica
parecendo é que essa separação enfraqueceu. O que prometem às igrejas os
candidatos que delas buscam apoio político? Cargos, influência? Essa prática não
é nova; muito pelo contrário, ela é praxe em todos os anos de eleição, entre
candidatos e empresas, em troca de doações e apoio. A novidade que choca é que,
dessa vez, é Deus quem cumpre o papel de empresa.
A posição dos
candidatos é até compreensível, porque se supõe que façam e devam fazer tudo de
lícito e possível por votos numa eleição. O que mais assusta, no entanto, é a
posição dos inúmeros chefes de igrejas, “núcleos”, “células” e outras
coletividades religiosas, que declaram apoio, entregam e prometem votos em nome
de Deus e dos seus devotos. E a individualidade? Pior: e Deus, que nem teve a
chance de se pronunciar? Para um líder religioso, que possui influência sobre
famílias, pessoas e comunidades e sabe disso, talvez fosse mais discreto e
interessante manter a neutralidade política.
No fim das
contas, eleição é tempo de ouvir sugestões sim, do vizinho ou da família. Mas
mais do que isso: é tempo de ouvi-las criticamente, lembrando que a escolha
pelo melhor candidato não é de Deus ou de quem o representa, mas do cidadão e
da sociedade.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 19 de setembro de 2012.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 19 de setembro de 2012.
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