O mundo tem acompanhado,
atentamente, as manifestações que têm ocorrido nas capitais brasileiras na
última semana, em função do aumento do preço das passagens de ônibus e outras
coisas que têm incomodado a população. São Paulo, de longe, é a cidade que mais
tem chamado atenção: milhares de manifestantes, policiais, imprensa, tropa de
choque, bombas de efeito moral, balas de borracha, destruição e todos os outros
ingredientes da melhor receita para o perfeito caos.
O disse-me-disse sobre estes
protestos é desnorteante: há quem diga que a polícia foi truculenta; há quem
diga que a violência partiu dos manifestantes; a grande mídia sai como vendida
e parcial; as notícias da internet também não vêm lá com muita parcialidade, e
por aí vai. Em meio a tudo isso, há até relatos de quem disse que foi ao
protesto para acabar com as próprias dúvidas e ver realmente o que estava
acontecendo, e que por isso poderia dar um retrato real dos acontecimentos da
manifestação. Mas dá para acreditar?
Aliás, em quem acreditar? São tantas
verdades escorregadias surgindo a todo o momento que firmar um posicionamento
sobre o assunto fica difícil. E é aí que surgem as imagens, em foto ou vídeo,
de cenas que ocorreram durante as manifestações. No primeiro vídeo que vi,
vê-se claramente um policial militar dando cacetadas no vidro da própria
viatura e, finalmente, quebrando-o. Em outro vídeo, repórteres, segurando suas
câmeras, identificam-se como jornalistas e, de repente, a tropa de choque da PM
começa a atirar contra eles balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. No
terceiro vídeo, algumas dezenas de manifestantes gritam, desarmados, a frase
“sem violência!”, e ficam perambulando pela rua sem fazer nada que parecesse
perigoso. Minutos depois, surge mais uma vez a famigerada tropa de choque da PM
e começa a atirar bombas de efeito moral e balas de borracha, sem motivo
aparente.
Há, ainda, entre inúmeros vídeos
disponíveis na internet, um último que me chamou atenção. Numa rua menor da
cidade de São Paulo, sete policiais perseguem um jovem, supostamente
jornalista, e mesmo depois de tê-lo rendido, continuam a acertá-lo com pauladas
de cassetete nas costas. Durante a mesma manifestação, o jornal Folha de S.
Paulo divulgou que sete de seus repórteres foram atingidos por ações da polícia
enquanto cobriam as manifestações; dois deles, com tiros de bala de borracha
nos olhos. Num protesto deste tamanho, embora não seja fácil saber quem é
bonzinho e quem é vândalo, certamente é possível distinguir quem são os
jornalistas em serviço.
No final das contas, quem tem razão?
De longe, é impossível dizer, e não é nem um pouco sábio formular juízo de
valor sem conhecimento de causa. O que se sabe, sobretudo pelas imagens, é que
há algo estranho no país do futebol. Há algo estranho com as ações da polícia,
com as manifestações, com as declarações dos governadores, com o aumento das
passagens de ônibus, com a inflação, com a Copa, com tudo. E vai sobrar para
quem?
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 15 de junho de 2013.
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