sábado, 27 de julho de 2013

Algo estranho no país do futebol

O mundo tem acompanhado, atentamente, as manifestações que têm ocorrido nas capitais brasileiras na última semana, em função do aumento do preço das passagens de ônibus e outras coisas que têm incomodado a população. São Paulo, de longe, é a cidade que mais tem chamado atenção: milhares de manifestantes, policiais, imprensa, tropa de choque, bombas de efeito moral, balas de borracha, destruição e todos os outros ingredientes da melhor receita para o perfeito caos.

O disse-me-disse sobre estes protestos é desnorteante: há quem diga que a polícia foi truculenta; há quem diga que a violência partiu dos manifestantes; a grande mídia sai como vendida e parcial; as notícias da internet também não vêm lá com muita parcialidade, e por aí vai. Em meio a tudo isso, há até relatos de quem disse que foi ao protesto para acabar com as próprias dúvidas e ver realmente o que estava acontecendo, e que por isso poderia dar um retrato real dos acontecimentos da manifestação. Mas dá para acreditar?

Aliás, em quem acreditar? São tantas verdades escorregadias surgindo a todo o momento que firmar um posicionamento sobre o assunto fica difícil. E é aí que surgem as imagens, em foto ou vídeo, de cenas que ocorreram durante as manifestações. No primeiro vídeo que vi, vê-se claramente um policial militar dando cacetadas no vidro da própria viatura e, finalmente, quebrando-o. Em outro vídeo, repórteres, segurando suas câmeras, identificam-se como jornalistas e, de repente, a tropa de choque da PM começa a atirar contra eles balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. No terceiro vídeo, algumas dezenas de manifestantes gritam, desarmados, a frase “sem violência!”, e ficam perambulando pela rua sem fazer nada que parecesse perigoso. Minutos depois, surge mais uma vez a famigerada tropa de choque da PM e começa a atirar bombas de efeito moral e balas de borracha, sem motivo aparente.

Há, ainda, entre inúmeros vídeos disponíveis na internet, um último que me chamou atenção. Numa rua menor da cidade de São Paulo, sete policiais perseguem um jovem, supostamente jornalista, e mesmo depois de tê-lo rendido, continuam a acertá-lo com pauladas de cassetete nas costas. Durante a mesma manifestação, o jornal Folha de S. Paulo divulgou que sete de seus repórteres foram atingidos por ações da polícia enquanto cobriam as manifestações; dois deles, com tiros de bala de borracha nos olhos. Num protesto deste tamanho, embora não seja fácil saber quem é bonzinho e quem é vândalo, certamente é possível distinguir quem são os jornalistas em serviço.


No final das contas, quem tem razão? De longe, é impossível dizer, e não é nem um pouco sábio formular juízo de valor sem conhecimento de causa. O que se sabe, sobretudo pelas imagens, é que há algo estranho no país do futebol. Há algo estranho com as ações da polícia, com as manifestações, com as declarações dos governadores, com o aumento das passagens de ônibus, com a inflação, com a Copa, com tudo. E vai sobrar para quem?



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 15 de junho de 2013.

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