sábado, 27 de julho de 2013

Atrapalhado e desesperado

O governo está desesperado, e isso não se pode mais negar. Depois das manifestações que tomaram o país, quando “o gigante acordou”, governantes e congressistas começaram a trabalhar para tentar consertar o estrago que havia sido feito e que muito provavelmente vai resultar em uma revolução nas urnas. Dilma subiu ao palanque algumas vezes e desatou a falar sobre reforma política, investimentos em saúde, médicos estrangeiros etc.; no Congresso, derrubaram a famigerada PEC 37, transformaram a corrupção em crime hediondo, acabaram com o voto secreto nas cassações de parlamentares e por aí vai.

Mas, como diria Milton Friedman, “não existe almoço grátis”. A produção legislativa realizada até aqui, desde quando as manifestações sociais começaram a surtir efeito, foi só para inglês ver. O PT está no governo há 10 anos, bem como a maioria dos parlamentares no Congresso, e só agora todos resolveram trabalhar? Agora, em meio à crise e aos protestos? E as medidas que serão tomadas resolverão nossos problemas? Estranho, no mínimo.

Os temas agora enfrentados pelo governo, como a reforma política, sempre enfrentaram muita resistência. Tenta-se fazer reforma política no Brasil há anos, e jamais se conseguiu, porque reformar o sistema político significa mudar as regras de um jogo que funciona muito bem para todos. Logo, é evidente que esta “vontade repentina” de mudar o país, surgida daqueles de quem nunca esperávamos mudança, é apenas para fazer a população acreditar que uma resposta está sendo dada aos protestos.

Tema igualmente espinhoso é o da transformação dos crimes de corrupção em crimes hediondos. O que mudou, afinal? Houve verdadeiro combate à corrupção? Temo que não. O problema da corrupção não é a rigidez das penas, mas a impunidade daqueles que são denunciados por crimes de corrupção e, após longos anos, não são condenados. A estes, pouco importa se o crime é ou não hediondo, já que dificilmente serão condenados. A medida é meramente populista, e em 2014 veremos muitos candidatos se utilizando disto como mote eleitoreiro. Verdadeiros anjos de candura, para o eleitor desavisado.

Outra consequência desta história toda é que os problemas recentemente enfrentados são de alta complexidade, e estão sendo trabalhados de maneira atabalhoada, sem debate, sem estudo, sem consulta aos especialistas. Dia sim, dia não, Dilma Roussef anuncia medidas que são tomadas, aparentemente, muito mais como justificativas de sua incompetência do que como reais soluções para os problemas que o país enfrenta.


A questão dos médicos, por exemplo, é emblemática. Particularmente, aumentar o número de médicos no SUS e não investir na estrutura do sistema de saúde não parece muito sábio, principalmente quando isto é feito sem planejamento e estudo. Mas esta se tornou a postura padrão do governo: tomar medidas sem planejamento, sem responsabilidade, apenas para tentar mostrar algum trabalho e disfarçar a culpa no caos em que o país está mergulhado.


Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 13 de julho de 2013.

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