sábado, 27 de julho de 2013

50 anos em cinco dias

Nas últimas semanas, a conjuntura política do Brasil tem mudado da água para o vinho. De repente – e não mais que de repente – a letargia política sob a qual se encontrava o povo se dissipou e as pessoas foram às ruas reclamar o que lhes é de direito. O resultado veio rápido: parlamentares, assustados com a grandeza das manifestações, começaram a trabalhar e tentar “mostrar serviço” ao povo que lhes elegeu, e até a Presidente da República encerrou o seu silêncio sepulcral e foi dar a cara à tapa diante das câmeras, propondo “pactos” pelo país.

No Congresso Nacional, senadores e deputados parecem estar trabalhando como nunca antes haviam trabalhado. A Câmara rejeitou a temida PEC 37, e agora muitos outros projetos de lei foram “ressuscitados” para acalmar os ânimos da população. A lista é longa: o projeto de lei que transforma o crime de corrupção em crime hediondo, o projeto que prevê transporte gratuito para estudantes, o fim do voto secreto nas deliberações sobre perda de mandato de parlamentares etc.

E a Presidente da República, por outro lado, também tem estado ocupada. Logo na segunda-feira dessa semana, Dilma reuniu prefeitos de capitais e governadores e, ao vivo, propôs ao país a adoção de cinco pactos nacionais, por responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, transporte e educação. A “cereja do bolo”, no discurso, foi o espetáculo de barbeiragens técnicas que a Presidente deu, falando sobre “corrupção dolosa” (uma baita redundância) e “constituinte específica” (algo que, na teoria, não existe), e se mostrando tecnicamente despreparada ou, no mínimo, mal assessorada.

Por que estas mudanças não foram feitas ou propostas antes? A Presidência da República está sob o poder do Partido dos Trabalhadores (PT) há 10 anos e somente agora, repentinamente, em meio à crise econômica e social, é que foi possível iniciar os “pactos nacionais”? Há dois anos Dilma Roussef foi eleita, com um forte discurso de investimento na educação, e nem mesmo depois de enfrentar uma greve geral das universidades federais houve tanta boa vontade quanto está havendo agora.

No Legislativo, os parlamentares voltam a usar o discurso do populismo penal para sair da mira do povo. O Senado já aprovou o projeto de lei que torna a corrupção crime hediondo, e isto dá a falsa ideia de que agora a corrupção será combatida. Aumentar a pena para o crime de corrupção não adianta nada quando o verdadeiro problema está na impunidade.

A impressão que fica é a de que os Poderes Executivo e Legislativo resolveram dar uma de Juscelino Kubitschek, mas ao invés de avançar o Brasil 50 anos em 5 anos, pretendem nos tirar 50 anos de atraso em apenas 5 dias, ou pouco mais que isso. Pior: os mesmos políticos responsáveis pelo apagão de investimentos em infraestrutura, saúde, educação, segurança pública e mobilidade urbana nos últimos anos querem nos convencer, em poucos dias, de que são eles próprios que irão arregaçar as mangas de seus paletós e resolver o problema. Será mesmo?



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 29 de junho de 2013. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário