Em meio às manifestações que tomaram
conta de todo o país nas últimas semanas, várias frases caíram na boca do povo.
“Verás que um filho teu não foge à luta” e “o Gigante acordou!”, em referência
ao Hino Nacional, foram as principais. Ao falar da manifestação em Manaus, que
aconteceu na última quinta-feira, permito-me regionalizar o bordão e dizer: o
porrudo acordou. O porrudo povo amazonense, que ficou durante anos “deitado
eternamente em rede esplêndida”, à beira do Rio Negro, finalmente acordou e
saiu da inércia.
Munidos de cartazes, constam nas
redes sociais que só em Manaus mais de 85 mil manifestantes saíram às ruas e
fizeram um protesto belo, ordeiro e afinado com a polícia, sem maiores
problemas, apesar de uma meia-dúzia de babacas que se separou do protesto e
instaurou o caos na frente da Prefeitura, não merecendo maiores comentários. A
manifestação não era coisa de “jovem revolucionário”: foram idosos, crianças,
adultos, gente divertida, gente séria, enfim, brasileiros indignados de toda a
sorte. Os motivos da indignação foram os mais variados, e não mais se limitaram
aos preços das passagens do transporte público, mas se irradiaram pelo combate
à corrupção, os investimentos em saúde, educação, segurança e muito mais. O
manauara saiu de casa e foi pedir, educadamente, o retorno pelos seus impostos.
No protesto, quase todos tiraram
nota 10. O povo se manifestou tranquilamente, a polícia foi exemplar, o poder
público liberou seus servidores com antecedência, para que pudessem participar
do ato, e até mesmo o trânsito, que costuma ser desastroso, não ficou tão ruim.
Mas sempre tem alguém que insiste em tirar 0 e reprovar na matéria
“democracia”: as grandes redes de televisão do Amazonas, durante quase toda a
manifestação, pouco ou nada transmitiram, enquanto a cidade e seu povo davam um
verdadeiro show de civilidade, principalmente se comparados ao resto do país.
Durante o dia inteiro, a Rede Globo mostrou
imagens de protestos espalhados pelo Brasil, menos de Manaus. Com tanta gente nas
ruas, Manaus teve um dos maiores atos públicos do país, aproximando-se do Rio
de Janeiro, com 300 mil pessoas, e de São Paulo e Recife, ambas com 100 mil
pessoas. Tentando zapear pelos canais da TV aberta, no entanto, era difícil
sequer saber que existia gente protestando. O AmazonSat, inclusive, mostrava um
interessantíssimo programa de decoração de ambientes enquanto o povo se
esgoelava nas ruas por seus direitos, em um admirável momento histórico da
cidade e do país.
Com a lamentável inexpressividade da
imprensa televisiva regional, que só se preocupou em divulgar a pequena “banda
podre” do protesto, perdemos a oportunidade de mostrar para o Brasil a Manaus
que tanto reclamamos que o resto do país nunca vê. Felizmente, nem isso pôde
ofuscar a grandeza do ato público e a esperança que floresceu em todos nós.
Esperança única, do Oiapoque ao Chuí: de que o grito das ruas se transforme na
indignação das urnas, e que uma mudança finalmente se inicie.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 22 de junho de 2013.
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