sábado, 27 de julho de 2013

O "porrudo" acordou

Em meio às manifestações que tomaram conta de todo o país nas últimas semanas, várias frases caíram na boca do povo. “Verás que um filho teu não foge à luta” e “o Gigante acordou!”, em referência ao Hino Nacional, foram as principais. Ao falar da manifestação em Manaus, que aconteceu na última quinta-feira, permito-me regionalizar o bordão e dizer: o porrudo acordou. O porrudo povo amazonense, que ficou durante anos “deitado eternamente em rede esplêndida”, à beira do Rio Negro, finalmente acordou e saiu da inércia.

Munidos de cartazes, constam nas redes sociais que só em Manaus mais de 85 mil manifestantes saíram às ruas e fizeram um protesto belo, ordeiro e afinado com a polícia, sem maiores problemas, apesar de uma meia-dúzia de babacas que se separou do protesto e instaurou o caos na frente da Prefeitura, não merecendo maiores comentários. A manifestação não era coisa de “jovem revolucionário”: foram idosos, crianças, adultos, gente divertida, gente séria, enfim, brasileiros indignados de toda a sorte. Os motivos da indignação foram os mais variados, e não mais se limitaram aos preços das passagens do transporte público, mas se irradiaram pelo combate à corrupção, os investimentos em saúde, educação, segurança e muito mais. O manauara saiu de casa e foi pedir, educadamente, o retorno pelos seus impostos.

No protesto, quase todos tiraram nota 10. O povo se manifestou tranquilamente, a polícia foi exemplar, o poder público liberou seus servidores com antecedência, para que pudessem participar do ato, e até mesmo o trânsito, que costuma ser desastroso, não ficou tão ruim. Mas sempre tem alguém que insiste em tirar 0 e reprovar na matéria “democracia”: as grandes redes de televisão do Amazonas, durante quase toda a manifestação, pouco ou nada transmitiram, enquanto a cidade e seu povo davam um verdadeiro show de civilidade, principalmente se comparados ao resto do país.

Durante o dia inteiro, a Rede Globo mostrou imagens de protestos espalhados pelo Brasil, menos de Manaus. Com tanta gente nas ruas, Manaus teve um dos maiores atos públicos do país, aproximando-se do Rio de Janeiro, com 300 mil pessoas, e de São Paulo e Recife, ambas com 100 mil pessoas. Tentando zapear pelos canais da TV aberta, no entanto, era difícil sequer saber que existia gente protestando. O AmazonSat, inclusive, mostrava um interessantíssimo programa de decoração de ambientes enquanto o povo se esgoelava nas ruas por seus direitos, em um admirável momento histórico da cidade e do país.


Com a lamentável inexpressividade da imprensa televisiva regional, que só se preocupou em divulgar a pequena “banda podre” do protesto, perdemos a oportunidade de mostrar para o Brasil a Manaus que tanto reclamamos que o resto do país nunca vê. Felizmente, nem isso pôde ofuscar a grandeza do ato público e a esperança que floresceu em todos nós. Esperança única, do Oiapoque ao Chuí: de que o grito das ruas se transforme na indignação das urnas, e que uma mudança finalmente se inicie.



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 22 de junho de 2013.

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