O Direito sempre vai “à reboque da
sociedade”. Significa dizer que, à medida que a sociedade vai evoluindo e
trazendo à tona novas realidades, o Direito vai se modificando e se moldando
para atender às demandas que surgem. É fácil exemplificar: só passou a existir o
Código de Trânsito Brasileiro muitos anos depois da invenção do automóvel e de
sua intensa utilização no Brasil. Ou seja, o Direito acompanhou posteriormente
um avanço do cotidiano.
Com os avanços tecnológicos de hoje,
é possível perceber essa tendência de modernização do Direito com muito mais
facilidade. Para explicar de modo claro, pode-se mencionar a recente “Lei
Carolina Dieckmann”, sobre crimes virtuais. Os crimes virtuais já existiam há
muito tempo, mas só depois da exposição de fotos íntimas da atriz Carolina
Dieckmann é que o legislador brasileiro produziu algo para punir esta conduta.
Não só a tecnologia é capaz de
produzir mudanças que geram novos direitos, mas, principalmente, a Medicina. A
propósito, justamente por lidar com a vida humana é que a Medicina e seus
avanços exercem especial influência sobre o surgimento de novos direitos e de
mudanças de paradigmas em relação ao indivíduo em sociedade. É seguro dizer que
muitos anos atrás a maioria das mortes com causa natural acontecia em função de
alguma cardiopatia. No entanto, pela descoberta de novos tratamentos e
remédios, houve a diminuição das mortes naturais causadas por doenças de
coração e os homens, ainda que tivessem uma vida mais longa, passaram a ter
outras doenças, como o câncer, que causa mortes mais lentas e penosas.
Neste contexto de “prolongamento” do
viver, em que várias pessoas ao longo dos anos viram-se definhando em camas de
hospitais, sem expectativa de retomar a qualidade de vida, surge um tal
“direito à morte”. Quando seria a hora certa de cessar a existência? Essa hora
existe? O tema não é tão novo, mas não é muito debatido no Brasil, por se
tratar de um tema muito polêmico e que envolve conceitos como a eutanásia,
ortotanásia, distanásia e suicídio assistido.
A morte é um acontecimento
intrínseco à vida, sobretudo quando a idade avança para além dos horizontes da
independência física e mental. O homem, contudo, custa muito a aceitar a ideia
de “morte” como algo normal. Cabe aqui fazer referência ao título deste artigo:
“dignidade no fim da vida”. Não se trata simplesmente de morrer, porquanto a
morte pode chegar, infelizmente, ainda na juventude. Trata-se de aceitar que a
vida vai chegando ao fim, e que é melhor que este seja de modo digno.
Tema espinhoso, não? O assunto é tratado
sob uma perspectiva bastante interessante no filme americano “You Don’t Know
Jack”, sobre o médico Jack Kevorkian (interpretado por Al Pacino, por sinal),
que defendeu o suicídio assistido nos EUA na década de 1990 e foi até mesmo
apelidado de Dr. Morte. Evidentemente, não é uma temática “amena”, mas não
faria mal que a sociedade debatesse: existe fim da vida com dignidade?
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 24 de agosto de 2013.
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