Há uma frase destas que circula pela
internet, ilustrada por um personagem da Turma da Mônica, que diz assim: “O
problema não é você ser ateu, cristão, budista, macumbeiro, espírita, gay ou
seja lá o que for. O problema é você ser chato”. Após as devidas reflexões,
cheguei à conclusão de que o mundo é habitado por uma imensidão de gente chata,
simplesmente. Digo isto pelo tom que alguns “protestos” tomaram quando o Papa
Francisco passeou por nossas terras, há pouco tempo.
Durante a Via Sacra, revoltosos de
Copacabana entoaram gritos de guerra do tipo “eu beijo homem, eu beijo mulher /
a minha boca pode beijar o que eu quiser!”. O perfeito exemplo de gente chata.
Que tipo de pessoa sai do conforto do seu lar para ir se manifestar contra uma
procissão de fé, que não faz mal a ninguém? É louvável quem vai às ruas entoar
palavras de ordem contra a corrupção, contra a péssima gestão do governo e tudo
mais, mas contra... O catolicismo? No que a crença religiosa particular de cada
um pode motivar um protesto?
Dias depois destes episódios, o Papa
Francisco deu a seguinte declaração: “se a pessoa é gay, procura a Deus e tem
boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”. O Papa, evidentemente, não faz parte
do grupo de “gente chata” e extremista que faz com que este tipo de discussão
ganhe volume. De fato, o que há de contraditório entre o catolicismo e a
orientação homossexual? Obviamente, nada. Cada qual que, católico ou gay,
seja-o em seu canto, em paz, e sem incomodar os outros.
Se há debates sobre casamento,
aborto e outras questões afins, e estes debates geram discussões em que se
envolvem religiosos e homossexuais, isto é outra história. Em todo caso, deve
haver respeito. A propósito, deve haver respeito em dois sentidos:
primeiramente porque o episódio que relatei ocorreu durante a visita do Papa,
que é o Chefe de Estado do Vaticano, o “menor país do mundo”. Ou seja, é uma
conduta diplomática não desrespeitá-lo. Em um segundo momento, deve-se atentar
para o fato de que a liberdade religiosa é garantida pela Constituição Federal,
e a violação desta liberdade, em vários aspectos, constitui crime.
Protestar é ok. E manifestar-se
contrariamente a uma determinada religião? Até aí, guardado o bom senso, também
não há problema. O problema surge quando, como demonstrado por inúmeras
reportagens, indivíduos começam a fazer insinuações obscenas com crucifixos e
destruir, jogando ao chão, imagens religiosas. Qual é a necessidade disto?
Entendo que o objetivo destes “protestantes” é combater a intolerância, mas não
se pode lutar contra a intolerância sendo ainda mais intolerante.
Essa gente intolerante – ou, como eu
disse, essa gente chata – é que amarga todos os bons debates polêmicos que são
fundamentais para o saudável desenvolvimento de uma sociedade democrática. Eis
o importante: ter a sua própria ideia e defendê-la, sem, no entanto, ofender
ninguém que dela discorde. É preciso evitar, em verdade, a propagação desta
gente chata.
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 3 de agosto de 2013.
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