terça-feira, 22 de outubro de 2013

Gente chata

Há uma frase destas que circula pela internet, ilustrada por um personagem da Turma da Mônica, que diz assim: “O problema não é você ser ateu, cristão, budista, macumbeiro, espírita, gay ou seja lá o que for. O problema é você ser chato”. Após as devidas reflexões, cheguei à conclusão de que o mundo é habitado por uma imensidão de gente chata, simplesmente. Digo isto pelo tom que alguns “protestos” tomaram quando o Papa Francisco passeou por nossas terras, há pouco tempo.

Durante a Via Sacra, revoltosos de Copacabana entoaram gritos de guerra do tipo “eu beijo homem, eu beijo mulher / a minha boca pode beijar o que eu quiser!”. O perfeito exemplo de gente chata. Que tipo de pessoa sai do conforto do seu lar para ir se manifestar contra uma procissão de fé, que não faz mal a ninguém? É louvável quem vai às ruas entoar palavras de ordem contra a corrupção, contra a péssima gestão do governo e tudo mais, mas contra... O catolicismo? No que a crença religiosa particular de cada um pode motivar um protesto?

Dias depois destes episódios, o Papa Francisco deu a seguinte declaração: “se a pessoa é gay, procura a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”. O Papa, evidentemente, não faz parte do grupo de “gente chata” e extremista que faz com que este tipo de discussão ganhe volume. De fato, o que há de contraditório entre o catolicismo e a orientação homossexual? Obviamente, nada. Cada qual que, católico ou gay, seja-o em seu canto, em paz, e sem incomodar os outros.

Se há debates sobre casamento, aborto e outras questões afins, e estes debates geram discussões em que se envolvem religiosos e homossexuais, isto é outra história. Em todo caso, deve haver respeito. A propósito, deve haver respeito em dois sentidos: primeiramente porque o episódio que relatei ocorreu durante a visita do Papa, que é o Chefe de Estado do Vaticano, o “menor país do mundo”. Ou seja, é uma conduta diplomática não desrespeitá-lo. Em um segundo momento, deve-se atentar para o fato de que a liberdade religiosa é garantida pela Constituição Federal, e a violação desta liberdade, em vários aspectos, constitui crime.

Protestar é ok. E manifestar-se contrariamente a uma determinada religião? Até aí, guardado o bom senso, também não há problema. O problema surge quando, como demonstrado por inúmeras reportagens, indivíduos começam a fazer insinuações obscenas com crucifixos e destruir, jogando ao chão, imagens religiosas. Qual é a necessidade disto? Entendo que o objetivo destes “protestantes” é combater a intolerância, mas não se pode lutar contra a intolerância sendo ainda mais intolerante.


Essa gente intolerante – ou, como eu disse, essa gente chata – é que amarga todos os bons debates polêmicos que são fundamentais para o saudável desenvolvimento de uma sociedade democrática. Eis o importante: ter a sua própria ideia e defendê-la, sem, no entanto, ofender ninguém que dela discorde. É preciso evitar, em verdade, a propagação desta gente chata.



Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 3 de agosto de 2013.

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