O mundo de vez em quando se organiza
em dicotomias, importantes ou não: “homem x mulher”, “Flamengo x Vasco”,
“direita x esquerda” e por aí vai. Há uma em particular, no entanto, que é
muito importante e diz respeito a todas as pessoas da vida civilizada: a
dicotomia “consumidor x produtor”. Esta se encaixa na categoria das dicotomias
que não se justificam, porque consumidor e produtor não são partes que devam se
opor, mas, antes, que devam se satisfazer mutuamente. Afinal, um só existe em
função do outro.
No Brasil, assim como em muitos
lugares do mundo, essa oposição entre consumidor e produtor é acentuada pelo
modo como muitas empresas resolvem tratar o consumidor, desrespeitando direitos
básicos com o intuito de ganhar mais dinheiro. Veja-se: existe uma seção do
site do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que lista os 30 maiores
litigantes em processos judiciais, e lá há mais de dez bancos, pelo menos seis
empresas privadas de telefonia móvel, algumas grandes lojas de departamentos e
também empresas de TV por assinatura.
Por que os números são assim? Porque
é muito mais vantajoso desrespeitar o consumidor, ganhar dinheiro e depois
pagar alguns advogados para mitigarem o dano do que evitar isso tudo, já que
nem todo consumidor desrespeitado vai a juízo. Em suma, o “crime”, em relação
ao consumidor, compensa. Em Manaus, a situação é um pouco diferente. Embora o
consumidor manauara tenha problemas com as grandes empresas, tanto quanto
qualquer consumidor brasileiro, o “carro-chefe” das nossas decepções consumeristas
é o despreparo dos lojistas e o descaso dos vendedores (fala-se, é claro, da
maioria, e é justo registrar aqui que há estabelecimentos em que o consumidor é
incrivelmente bem atendido).
Não tratar bem o consumidor é puro
amadorismo e falta de vontade de ganhar dinheiro, já que o consumidor
satisfeito recomenda o lugar onde foi bem atendido, dá gorjeta e volta, para
prestigiar o tratamento que recebe. À guisa de exemplo, certa vez, em uma
viagem, entrei em uma loja e, depois de atendido por um vendedor, a loja me
ofereceu uma cerveja. Por que não? É algo ligeiramente mais divertido que uma
água ou um cafezinho, não custa muito dinheiro e cativa o cliente. Por que
ninguém pensou nisso antes? Em Manaus, o consumidor entra em uma loja e inicia
a “caça ao vendedor”, até que alguém finalmente se disponha a atendê-lo.
A culpa do despreparo é dos
vendedores? Obviamente, sim, mas somente em análise prévia. Em último caso, a
culpa da má qualidade do serviço é do empresário, que não fiscaliza o bom
atendimento a seus clientes, não investe em treinamento para a sua equipe, não
se preocupa em contratar funcionários motivados a trabalhar com qualidade etc.
Aliás, a preocupação poderia ser resumida precisamente nisto: trabalho com
qualidade.
Enquanto isso não acontece, o
comércio manauara vai ganhando a fama de mal-educado, o consumidor perde em
qualidade, o fornecedor perde em dinheiro e todos nós perdemos em bem-estar. Que
tal mudar isso aí?
Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 10 de agosto de 2013.
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