terça-feira, 22 de outubro de 2013

O motorista-guerreiro

O site da revista Superinteressante possui inúmeras matérias sobre o trânsito, entre críticas, soluções e novas ideias para melhorar este problema que aflige grande parte dos brasileiros. Numa destas matérias, a revista atesta que o trânsito no Brasil parou, e aponta a solução:pôr a cabeça para funcionar. Não poderia deixar de concordar.

É verdade que a expressão, no contexto da matéria, possui o significado de repensar e reorganizar o trânsito das grandes cidades. Não pude deixar de concluir, contudo, que a maioria dos problemas do trânsito está mesmo no comportamento (acabeça, portanto) dos motoristas. Logo, seria o caso de inevitavelmentepôr a cabeça para funcionar.

O primeiro e grande passo talvez seja abandonar a cultura da guerra no trânsito e do motorista-guerreiro. Não, o trânsito não é uma guerra, ao contrário do que muitos pensam; e não, o automóvel não é um carro de batalha, destinado a vencer tudo e todos no trajeto de casa para o trabalho. Digo mais: abandonar a cultura da guerra no trânsito é essencial justamente porque se trata de uma simples questão de educação doméstica, valor que está em falta nas ruas do país.

Confesso que o que me motivou a escrever este artigo foi o acontecimento de alguns episódios (ou melhor, rotinas) por quais passo no trânsito de Manaus, e que explicam muito bem o que é a cultura e o comportamento do motorista-guerreiro. Relato. A primeira delas é quando, durante um engarrafamento, tenta-se mudar de faixa. O motorista liga educadamente o pisca-alerta, espera pacientemente a oportunidade de fazer a mudança, e esta oportunidade jamais aparece, porque os motoristas da outra faixa insistem em avançar e impedir a transição, sem qualquer motivo aparente.

Qual é o custo de ser educado? Aliás, qual é a dificuldade em ser educado? As ruas estão cheias de palavrões e buzinadas desaforadas, mas pouco se ouvedesculpe,por favoreobrigado. Trata-se de um ambiente insalubre em que, enquanto cada um se encerra em seu carro e em suas necessidades, pouco importa o outro ou a coletividade. Dentro de um carro, independente da pressa cotidiana de todos, é sempre o compromisso do próprio motorista o mais importante, jamais se cogitando que talvez o motorista ao lado também esteja aflito, com pressa, prestes a perder algo importante etc.

E os retornos em locais proibidos? E os carros nas calçadas? E aqueles que jamais param na faixa de pedestres? A propósito, e os pedestres que atravessam a rua debaixo da passarela? Estes comportamentos, que poderiam ser resolvidos com um mínimo de educação e consideração, fazem do trânsito uma verdadeira guerra; e de seus motoristas, verdadeiros guerreiros.


Que fique o apelo para que surja omotorista-amigo, em detrimento domotorista-guerreiro; que surja o motorista tolerante, ao invés do motorista impaciente; e, por fim, que o trânsito deixe de sersenão totalmente, pelo menos um pouco!este lamentável ambiente de guerra.


Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO em 5 de outubro de 2013.

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